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Crítica: "Wild Card" ("Wild Card - Jogo Duro"), de Simon West



Enquanto que Liam Neeson se vai afastando da sua imagem de ator dramático para se tornar naquilo a que se chama um "herói de ação" na senda de Sylvester Stallone (nos seus tempos áureos, é claro) ou até Charles Bronson, o britânico Jason Statham, parece empenhado em conseguir fazer a transição oposta, intercalando "filmes de cacetada" genéricos ("Correio De Risco 3", ou "Safe", a título de exemplo) com obras que adotam um tom mais sério como "Killer Elite - O Confronto", "Redenção" e agora este "Wild Card", um remake de uma fita esquecida de Burt Reynolds.



Nick Wild é um falhado, propenso a atos de violência e possuidor de um enorme vício no jogo que trabalha como guarda-costas em Las Vegas, uma cidade que odeia, e da qual pretende fugir assim que conseguir arranjar dinheiro suficiente para isso, só que as coisas complicam-se quando se vê envolvido com um líder da máfia (um Milo Ventimiglia exagerado, mas divertido) que atacou brutalmente uma amiga sua (Dominik Garcia-Lorido a combinar vulnerabilidade e gentileza com sadismo e fúria surpreendentemente bem).



"Jogo Duro" não é perfeito, mas isso até acaba por fazer parte do seu charme. Parte série B dos anos 80, parte drama sobre o vício e as ramificações da violência, Simon West adapta um argumento, estupidamente bem escrito (os diálogos são um must), do aclamadíssimo William Goldman (que, por razões que a razão desconhece, já não escrevia há uma década) com uma clara noção de estilo e produz uma pérola.


7/10
Miguel Anjos

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