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Crítica: "Son Of A Gun" ("Filho Do Crime"), de Julius Avery



Ultimamente, temos vindo a assistir a uma espécie de "nova vaga" do cinema australiano, liderada por cineastas jovens e altamente talentosos, com vontade de produzir películas duras e negras, que estudam a corrupção moral do ser humano e os seus efeitos, exemplos disso são filmes como "The Rover", "Wish You Were Here" (não confundir com "Wish I Was Here" de Zach Braff), "Felony" ou "The Square". Agora, chega às salas portuguesas "Son Of A Gun", a (auspiciosa) estreia na realização de Julius Avery que aborda as mesmas temáticas, mas de uma forma substancialmente diferente.




Condenado por um pequeno crime, o jovem JR, de 19 anos, é encarcerado num estabelecimento prisional de alta segurança, onde entra em contacto com as duras realidades da vida na prisão e se vê obrigado a formar uma aliança com Brendan Lynch, o maior criminoso da Austrália, para conseguir sobreviver. E a partir daí, aquilo que começa como uma "fita de prisão" crua e, não raras vezes, niilista rapidamente se transforma num heist movie intimista e altamente atmosférico, com uma forte componente dramática e uma banda-sonora electrizante de Jed Kurzel (que já tinha dado provas de qualidade em "O Senhor Babadook").



Ancorada por uma interpretação verdadeiramente visceral de Ewan McGregor, "Filho Do Crime" é uma fita intensa, absorvente e brutalmente realista de iniciação ao mundo do crime (na linha de películas recentes, com a mesma temática, como "Reino Animal" ou "O Profeta") que prende desde o primeiro ao último segundo.



9/10
Miguel Anjos

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