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Crítica: "O Prodígio", de Edward Zwick



Título Original: "Pawn Sacrifice"
Realização: Edward Zwick
Argumento: Steven Knight, Stephen J. Rivele, Christopher Wilkinson
Elenco: Tobey MaguirePeter SarsgaardLiev Schreiber
Género: Biografia/Drama
Duração: 115 minutos

Estamos em 1972, no pico da Guerra Fria. Em Reykjavik, na Islândia, o fenómeno do xadrez norte-americano, Bobby Fischer (interpretado por Tobey Maguire), prepara-se para um aguardado embate perante o grande mestre russo Boris Spassky (Liev Schreiber), no que foi chamado "O Jogo do Século". Ora, e mais de quatro décadas depois do sucedido, o cineasta Edward Zwick ("O Último Samurai", "Diamante de Sangue") decidiu pegar nesse episódio verídico e, em torno dele, construiu este "O Prodígio" (título original: "Pawn Sacrifice"), uma obra de enorme eloquência, sofisticação e lucidez, a paredes meias entre o drama biográfico e o thriller político, através da qual Zwick se serve da componente paranóica (da Guerra Fria e da psique do próprio Fischer) inerente a esse período, para criar um clima de tensão constante. Além disso, Tobey Maguire (um dos produtores do filme), que é um dos melhores (e mais subvalorizados) atores da sua geração e compõe aqui um Fischer notável, equilibrado entre a fragilidade adolescente e a determinação quase psicótica, merecia um Óscar...

Miguel Anjos

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