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Crítica: "O Segredo dos Seus Olhos", de Billy Ray



Título Original: "Secret in Their Eyes"
Realização: Billy Ray
Argumento: Billy Ray
Elenco: Chiwetel EjioforNicole KidmanJulia RobertsDean NorrisAlfred MolinaJoe ColeMichael KellyZoe Graham
Género: Mistério, Thriller
Duração: 111 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Classificação Etária: M/12
Data De Estreia (Portugal): 19/11/2015
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Foram muitos os críticos que, ao longo da passada semana, se decidiram insurgir contra a existência deste "O Segredo dos Seus Olhos", remake do filme homónimo de 2009, assinado pelo argentino Juan José Campanella, porém a pergunta que parece ficar sempre por responder é talvez a mais importante, ou seja, afinal qual o porquê de tamanho ultraje? Muito simples, aliás, bastaria um breve olhar para os textos que têm sido escritos acerca desta obra para perceber qual a acusação (e fá-lo no singular, até agora tem sido o foco de tudo o que li) que aqui está em causa: não havia necessidade de "refilmar" que, por si só, já era genial. Até aqui tudo bem, mas o que se passa é que a refilmagem correu bem e, mesmo que algumas ideias, se tenham perdido pelo caminho "O Segredo dos Seus Olhos" é uma fita de suspense intensa e bem estruturada (note-se que construir uma narrativa cuja ação se divide em dois tempos não é, de todo uma tarefa fácil, porém Ray consegue-o com uma mestria invejável), com um tom e respiração próprios, que se prova um belo exercício cinematográfico enraizado na riquíssima tradição do thriller. A história parte da perspetiva de Ray (Chiwetel Ejiofor, excelente como o herói desencantado) um polícia que há muito tempo deixou o seu emprego no FBI em consequência da obsessão por um assassinato, no qual a vítima era a filha da sua melhor amiga Jess (Julia Roberts), também ela agente. 13 anos depois e com uma nova pista, Ray tenta pedir ajuda à representante do ministério público e antiga paixão platónica Claire (Nicole Kidman) de modo a ver finalmente justiça cumprida. Billy Ray (realizador de "Quebra de Confiança" e argumentista de "Capitão Phillips") traduz para a realidade americana a dimensão política da trama original sem a trair, transformando a deriva militarista dos anos 1970 subjacente à fita original nas feridas abertas deixadas pelo 11 de Setembro (ótima ideia, já agora), onde o combate ao terrorismo era a prioridade máxima nos EUA. Além disso, importa reconhecer a dimensão psicológica que o argumento confere às suas personagens, oferecendo assim uma pesada herança emocional a uma teia policial já de si bastante sólida. De facto, não era necessário, mas existe e é bom, portanto mais vale aproveitar.

Classificação: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 
Texto de Miguel Anjos

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