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Crítica: "Anomalisa", de Duke Johnson, Charlie Kaufman


Título Original: "Anomalisa"
Realização: Duke JohnsonCharlie Kaufman
Argumento: Charlie Kaufman
Elenco: David ThewlisJennifer Jason LeighTom Noonan
Género: Animação, Comédia, Drama
Duração: 90 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Data De Estreia (Portugal): 21/01/2016
Classificação Etária: M/14

Narrador rebelde e sempre inclassificável, apostado em desafiar as normas correntes da própria narrativa (ou as normas das narrativas coerentes), o norte-americano Charlie Kaufman (cujo currículo, enquanto argumentista, inclui proezas tão invulgares quanto a bizarra fantasia de "Queres Ser John Malkovich?" ou o romantismo transcendental de "O Despertar da Mente") regressa, agora, às nossas salas, contando com a colaboração de Duke Johnson, um especialista de técnicas de animação, com uma obra verdadeiramente notável: "Anomalisa", um filme de animação que não se parece com nada que conheçamos e fica, desde já, como uma das grandes estreias de 2016. Tudo acontece em torno de Michael Stone (voz de David Thewlis), especialista em "auto-ajuda" que está em Cincinatti para uma conferência sobre o seu novo livro. Cansado das suas próprias rotinas, marca encontro com Bella, uma antiga namorada, mas a conversa corre muito mal. Porém, tudo muda quando Stone se depara com Lisa (voz de Jennifer Jason Leigh), uma figura de aparência frágil que está em Cincinatti para assistir à sua apresentação... Divertido, melancólico e profundamente comovente, "Anomalisa" é uma viagem complexa e surrealista aos confins da intimidade a emanar sofrimento, solidão e arrependimento, que mesmo através da animação consegue fortemente passar para o lado de cá do ecrã.

Classificação: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10
Texto de Miguel Anjos

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