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Crítica: "A Lagosta", de Yorgos Lanthimos


Título Original: "The Lobster"
Realização: Yorgos Lanthimos
Argumento: Yorgos LanthimosEfthymis Filippou
Elenco: Colin FarrellRachel WeiszJessica BardenOlivia ColmanAshley JensenAriane LabedAngeliki PapouliaJohn C. ReillyLéa SeydouxMichael SmileyBen Whishaw
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 118 minutos
País: Grécia | Irlanda | Holanda | Reino Unido | França
Ano: 2015
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/16
Data De Estreia (Portugal): 19/05/2016

No mundo de "A Lagosta", as regras são simples: nenhum adulto pode ficar solteiro mais do que 45 dias. Assim, cada vez que alguém perde um parceiro (seja devido a um divórcio ou viuvez) é enviado para um hotel especial para que volte a encontrar um par. Caso não o consiga fazer, é transformado num animal previamente escolhido por si e solto numa floresta. Depois de ser deixado pela mulher (que o trocou por outro homem), David (Colin Farrell, irreconhecível e irrepreensível, num dos melhores desempenhos da sua carreira) chega ao hotel com o seu irmão, recentemente transformado em cão. Quando se apercebe de que nunca encontrará alguém que se interesse nele e que em breve será transformado numa lagosta (o animal que escolheu) decide escapar para a floresta, onde se vai deparar com os "solteiros", um grupo de resistência que se rege por regras tão ou mais absurdas que os outros. Daí nasce uma obra singular, bizarra e hilariante, através da qual o cineasta grego Yorgos Lanthimos (que, já tinha demonstrado uma capacidade invulgar para criar e explorar construções sociais restritivas no muito aclamado "Canino") utiliza o absurdo para espelhar o desespero e as compulsões humanas, construindo assim uma fascinante e aterrorizante alegoria sobre os efeitos da solidão, o medo de viver e morrer sozinho, mas acima de tudo de como viver acompanhado e da pressão de encontrar alguém. Desta forma, encontramos em "A Lagosta", um filme que nos consegue fazer rir de temas que, normalmente, nos fariam chorar e isso é admirável, isto já para não falar de um fabuloso final que na sua imensa estranheza é das coisas mais tocantes que vimos nestes últimos anos…

Texto de Miguel Anjos

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