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Crítica: "Ninguém Quer a Noite", de Isabel Coixet



Titulo Original: "Nadie quiere la noche"
Realização: Isabel Coixet
Argumento: Miguel Barros
Elenco: Juliette Binoche, Rinko Kikuchi, Gabriel Byrne
Género: Drama
Duração: 104 minutos
País: Espanha | França | Bulgária
Ano: 2015
Distribuidor: Lanterna de Pedra Filmes
Classificação Etária: M/12
Data De Estreia (Portugal): 12/05/2016


Cineasta de eminente versatilidade, cujo trabalho nunca foi muito visto por cá (aliás, das doze longas-metragens que assinou ao longo dos seus vinte e sete anos de carreira, esta é apenas a sexta a chegar ao circuito comercial português), a catalã Isabel Coixet regressa às nossas salas com "Ninguém Quer a Noite", um drama baseado em personagens reais, mas não em factos verídicos, que retrata a luta pela sobrevivência de duas mulheres face ao rigoroso inverno no Pólo Norte, onde a noite cai durante semanas. O que daí resulta é um filme visualmente impressionante (destaque necessário, para a colaboração vital do diretor de fotografia Jean-Claude Larrieu, naquela que é a sua sétima colaboração com a realizadora), que começa como um conto romântico com molduras épicas, só para depois se reinventar enquanto drama íntimo e, é nessa segunda metade, que o filme de Coixet ganha um fôlego redobrado, em parte, devido à introdução de Rinko Kikuchi (com quem já tinha trabalhado em "Map of the Sounds of Tokyo", que foi um daqueles que ficaram por estrear), que no papel de uma esquimó à espera de um amor que pode nunca chegar, consegue até ofuscar Binoche. Não será o melhor título da filmografia da catalã ("Elegia" ainda é o detentor dessa honra), mas tem um charme clássico (a espaços, até nos vem à cabeça o icónico "Nanuk, o Esquimó") que cativa.

Texto de Miguel Anjos

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