Crítica: "Os Anarquistas", de Elie Wajeman
Título Original: "Les anarchistes"
Realização: Elie Wajeman
Género: Drama
Duração: 101 minutos
País: França
Ano: 2015
Distribuidor: Cinemundo
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 23/06/2016
Comecemos com um facto que nada tem a ver com a qualidade do filme em questão, ao longo dos primeiros quatro dias em que esteve em exibição, "Os Anarquistas" não somou mais que uns miseráveis 174 espetadores, em duas salas de cinema. É triste e, ainda que facilmente compreensível caso tenhamos em conta uma série de fatores mais ou menos óbvios (uma campanha de marketing inexistente, aliada a um lançamento tímido, são os mais gritantes), mas isso não muda que um dos filmes mais atípicos e, também, por isso, interessantes deste verão cinematográfico (como sempre, dominado pelos blockbusters norte-americanos e pelas suas campanhas monstruosas) tenha passado completamente ao lado da maioria daqueles que visitam as salas. E, dizemos atípico, porque o realizador Elie Wajeman foi capaz de contornar o chamado "pastelão" histórico, compondo ao invés uma obra vigorosa que funciona como uma astuta combinação de melodrama romântico clássico com thriller. Nele, um humilde inspetor da polícia é convidado a infiltrar-se numa célula anarquista, na Paris de 1899. Porém, o que começou como uma forma rápida para obter uma promoção, muda quando este começa a criar laços dentro do grupo. Wajeman (que também assina o argumento), encena tudo isto com uma sofisticação reminiscente do cinema neo-clássico norte-americano (não é à toa que cita James Gray como influência) e imprime à narrativa uma atmosfera de suspense que agarra desde o início, resultando numa fita emocionalmente complexa, ambígua e implacavelmente intensa, isto tudo sem artifícios nem truques baratos, só cinema do bom. E, é claro que ajuda ter uma dupla de atores do calibre de Adèle Exarchopoulos e Tahar Rahim, no centro desta narrativa e, se dois nomes assim podem ofuscar o restante elenco, importa ainda não perder de vista o jovem Swann Arlaud, num pequeno papel que marca. Está aqui uma das boas surpresas do ano e, afinal, um dos seus grandes filmes.
Texto de Miguel Anjos
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