Avançar para o conteúdo principal
Crítica (MOTELx 2016): "Shelley", de Ali Abbasi



Título Original: "Shelley"
Realização: Ali Abbasi
Argumento: Ali AbbasiMaren Louise Käehne
Elenco: Ellen Dorrit PetersenCosmina StratanBjörn Andrésen
Género: Drama, Terror
Duração: 92 minutos

Crítica: Aquando da sua passagem pela passada edição do Festival de Berlim, o realizador paquistanês Ali Abbasi confessou não ser muito dado ao género do terror, o que acabava por funcionar como uma curiosidade visto que a sua primeira longa-metragem se inseria precisamente nesse campo. Pois bem, não querendo refutar essa afirmação, a verdade é que face a um filme como este "Shelley", ninguém diria. Com reminiscências muito claras de clássicos como "A Semente do Diabo" ou "O Génio do Mal", a história acompanha uma jovem empregada doméstica (notável interpretação de Cosmina Stratan, que já tínhamos visto no "Para Lá das Colinas", de Mungiu), que é contratada por um casal abastado para que seja barriga de aluguer. Só que, como é natural as coisas não correm lá muito bem… Há em "Shelley" um elemento interessante de crítica social à atual sociedade europeia (o próprio cineasta falou sobre isso depois da sessão), mas o que nos impressiona nesta fita é a atmosfera de tensão que Abbasi estabelece com mestria logo no ínicio e mantêm até ao fim. Uma coisa é certa, com uma narrativa tão subtil e emocionalmente intricada, que nunca explode verdadeiramente, este não será um filme para todos os gostos, mas quem quiser uma experiência cinematográfica sufocante e completamente invulgar, tem neste "Shelley" uma proposta irrecusável.

Filme visionado no MOTELx 2016

Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Destroyer: Ajuste de Contas" O falhanço financeiro de um duo de produções conturbadas (“Aeon Flux” e “O Corpo de Jennifer”) remeteram Karyn Kusama a um silêncio demasiado longo. No entanto, em 2016, reencontrámo-la aos comandos de um filme francamente impressionante. Chamava-se “The Invitation” e convidava-nos a entrar na intimidade fantasmática de um homem que não conseguia ultrapassar um acontecimento traumático que o destruiu. Passou completamente ao lado do circuito comercial, contudo, tornou-se num fenómeno de culto em homevideo e deu visibilidade suficiente à sua autora para lhe permitir filmar com um orçamento mais alto (9 milhões), o apoio de um estúdio interessado em auxiliar cineastas ousados (a Annapurna) e um elenco preenchido por nomes sonantes para filmar o seu magnum opus , ou como diriam os românticos alemães do século XIX a sua Gesamtkunstwerk (“obra de arte total”). Trata-se do conto sanguinolento e melancólico de Erin Bell (Nicole Kidman). Uma
"Clímax", de Gaspar Noé Nos primeiros minutos de “Clímax” é-nos providenciado um plano aéreo de uma mulher ensanguentada a percorrer um mar de neve, eventualmente caindo prostrada no branco e nele se distendendo. É a chamada  god’s eye view , um enquadramento da visão divina, que contempla as minúsculas romagens humanas lá do alto, sempre com indiferença. Essa vista alonga-se, para encontrar uma árvore, numa panorâmica lenta que vai abrindo caminho para o horizonte, orientando-se de tal modo que coloca a rapariga no céu e, por conseguinte, Deus na terra. Ainda não terminaram os segundos iniciais da sexta longa-metragem de Gaspar Noé e o mesmo já declarou que as imagens delirantes a que seremos expostos nos seguintes 95 minutos, se encontraram num intervalo permanente e perturbante entre o olhar distante de um qualquer Deus terreno e a lógica sacralizadora de um artista em busca de sensações viscerais. Caso restem dúvidas, o ecrã é imediatamente apoderado por uma
"Juliet, Nua", de Jesse Peretz Quando uma comédia romântica funciona mesmo muito bem, dão-se dois acontecimentos intrinsecamente interligados. Primeiro, começamos a acreditar nas personagens em causa, e a reconhecermo-nos nelas. Segundo, os apontamentos humorísticos convencem-nos tão bem do ambiente de aparente ligeireza, que somos completamente surpreendidos, quando a narrativa nos confronta com temáticas sérias. Felizmente, “Juliet, Nua” constitui mesmo um desses pequenos milagres. Um olhar, simultaneamente, melancólico e hilariante sobre um trio de indivíduos, que tentam encontrar o melhor caminho possível para a felicidade, dentro das situações francamente complexas, que os “assombram”. Resumindo de maneira necessariamente esquemática, esta é a história de Annie (a sempre confiável Rose Byrne), uma mulher de meia-idade, oriunda de uma pequena vila britânica, daquelas onde nunca nada parece acontecer, que namora com o intelectual Duncan (Chris O’Dowd)