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Crítica (MOTELX 2016): "The Master Cleanse", de Bobby Miller


Título Original: "The Master Cleanse"
Realização: Bobby Miller
Argumento: Bobby Miller
Género: Comédia, Drama, Terror
Duração: 81 minutos

Crítica: Por vezes, os filmes mais estranhos acabam também por ser os mais honestos, os mais humanos. Assim é "The Master Cleanse", a história bizarra de Paul (Johnny Galecki), um quarentão esgotado e de coração partido, que depois de ser abandonado pela mulher e ter perdido o emprego, se decide inscrever num retiro espiritual para se limpar e, mais importante reorganizar a sua vida. Só que não tarda a perceber que esta suposta limpeza liberta muito mais do que simples toxinas… E, não vale a pena dizer mais, até porque este é um daqueles filmes que merece ser visto sabendo o menor número de informações de antemão e, por isso, dizemos apenas que esta primeira longa-metragem de Bobby Miller é um pequeno e fascinante prodígio, sobre a forma como lidamos com as coisas que nos puxam para baixo e nos deprimem, tudo isto através de uma narrativa que vai mudando de tom (drama melancólico, comédia absurda, creature feature, há espaço para tudo por estas bandas) e subvertendo expectativas constantemente com uma mestria, no mínimo, fora do vulgar. Não constitui a mais comum das propostas é certo, e se a sua estranheza pode alienar os espetadores menos aventureiros, os outros não têm como perder aquele que é uma das mais arriscadas e comoventes experiências de cinema dos últimos tempos, acima de tudo, Miller constrói um filme que dialoga com o seu espetador e não se parece com nada que este último tenha visto antes e, isso é mais do que louvável!

Filme Visionado no MOTELX 2016

Texto de Miguel Anjos

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