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Crítica: "As Armas de Jane", de Gavin O'Connor


Título Original: "Jane Got a Gun"
Realização: Gavin O'Connor
Argumento: Brian Duffield, Anthony Tambakis, Joel Edgerton
Elenco: Natalie Portman, Joel Edgerton, Ewan McGregor
Género: Ação, Drama, Western
Duração: 98 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 13/10/2016

Crítica: É, bastante provável que "As Armas de Jane" fique mais conhecido pelos percalços vários que tiveram lugar durante a rodagem (desde Lynne Ramsay, a realizadora original, que abandonou a produção no dia em que era suposto começarem as filmagens, até um argumento reescrito, passando por muitos atores que foram entrando e saindo, piorando significativamente um processo que já andava conturbado o suficiente). O que, à falta de um termo mais adequado, constitui uma verdadeira tragédia, uma vez que, apesar desse historial conturbado, estamos perante uma das mais engenhosas surpresas do calendário outonal: um western clássico, construído com base nos fundamentos da tragédia, que se apoia num trabalho uniformemente excelente dos seus atores. Natalie Portman (também produtora) é Jane Hammond, uma jovem e bela mulher do Velho Oeste, que se necessita de pedir auxilio a um homem com quem viveu um amor caso romântico vários anos antes para defender a família e a casa de um gangue de malfeitores, ao qual o marido pertencia quando se conheceram. A cinematografia da australiana Mandy Walker é belíssima, e as interpretações impecáveis (em especial, Portman e Joel Edgerton), mas o que fascina é a abordagem intimista que o cineasta Gavin O'Connor escolheu adotar neste western, mais interessado nos conflitos interiores das suas personagens do quem em elaboradas cenas de ação.

Texto de Miguel Anjos

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