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Crítica: "Um Editor de Génios", de Michael Grandage


Título Original: "Um Editor de Génios"
Realização: Michael Grandage
Argumento: John Logan
Elenco: Colin Firth, Jude Law, Nicole Kidman, Laura Linney
Género: Biografia, Drama
Duração: 104 minutos
País: Reino Unido | EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 05/10/2016

Crítica: Nome maior do teatro britânico, o muito premiado encenador Michael Grandage abandonou a encenação e decidiu tentar a sua sorte enquanto cineasta, tendo como base um argumento de um dos seus mais ilustres compatriotas, John Logan (o nome por detrás de clássicos modernos como "Gladiador", "O Aviador" ou "A Invenção de Hugo"). Reunião inesperada é certo (afinal, Logan nunca antes havia trabalhado com um estreante nestas andanças), mas da qual resultou um filme precioso, que constitui uma das maiores e claro está, melhores surpresas da temporada. Chama-se "Um Editor de Génios" (título original: "Genius"), encena o encontro entre o editor Max Perkins e o escritor Thomas Wolfe, dois grandes vultos da literatura norte-americana e, possui um charme e uma eloquência, que nos seduzem de imediato. Se é classicista? Pois claro, e Grandage nunca foge (nem devia) da etiqueta de "filme de prestígio", mas também por isso "Um Editor de Génios" necessita de ser visto, não estivéssemos nós perante uma obra que parece uma relíquia de tempos já bem distantes, um drama adulto e emocionalmente complexo, que analisa o processo da criação literária e discute o peso e a importância das palavras. Além do mais, Grandage é um homem do teatro e, desse universo trouxe uma enorme e notória paixão pelo labor dos seus atores e, se de um intensamente subtil Colin Firth (sempre de chapéu) até uma soberba Nicole Kidman (passando por pequenas, mas interessantes participações de Guy Pearce ou Dominc West) ninguém falha, então não há como negar que o filme "pertence" a Jude Law, que no papel de Wolfe tem um dos momentos altos da sua carreira, as cenas que partilha com Firth (admiravelmente contido) são de uma exuberância que era muito própria da personalidade de Wolfe, que o ator inglês capta com uma energia e uma fúria deveras arrepiantes.

Texto de Miguel Anjos

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