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Espaço TV

Crítica (TV): "Arma Mortífera", de Matthew Miller (AXN)


Título Original: "Lethal Whepon"
Criação: Matthew Miller
Realização: McG
Argumento: Matthew Miller
Elenco: Clayne Crawford, Damon Wayans, Jordana Brewster
Género: Ação, Crime, Drama
Duração: 46 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Canal (Portugal): AXN
Data de Estreia (Portugal): 03/10/2016

Crítica: Em anos recentes, as adaptações televisivas de obras cinematográficas populares têm vindo a tornar-se numa presença regular no pequeno ecrã. E, apesar de um pequeno número de casos mais ou menos catastróficos ("Hora de Ponta", por exemplo, precisa de ser enterrada e esquecida urgentemente), a verdade é que esta tendência tem originado algumas das mais interessantes e variadas propostas televisivas do panorama atual (onde se contam títulos como "Fargo", "Bates Motel" ou "Ash VS Evil Dead"). Posto isto, não há como ignorar que esta estratégia comercial tem resultado bem melhor com fitas de culto ou clássicos intemporais da sétima arte, do que com grandes blockbusters, pelo que seria natural esperar que uma tentativa de trazer Martin Riggs e Roger Murtaugh (para os que não se lembram ou, não sabem porque vivem debaixo de uma pedra), as personagens de Mel Gibson e Danny Glover, nas fitas da saga "Arma Mortífera" de volta, tivesse potencial para correr muito mal, afinal, importa lembrar, que mesmo os originais começaram a dar sinais evidentes de cansaço a partir do terceiro capítulo. Ainda assim, toda a série merece uma hipótese, pelo que, entrámos nesta adaptação esperando o melhor, mas preparados para o pior e, tendo visionado o piloto concluímos estar perante uma surpresa funcional, que se apresenta como uma opção bastante sólida para um serão preguiçoso no sofá (e, não sejamos pedantes, todos apreciamos o ocasional pedaço de entretenimento light de vez em quando). Felizmente, o criador Matthew Miller soube respeitar a herança deveras emblemática do universo criado por Shane Black e Richard Donner na década de 80, e ao invés de tentar replicá-lo apostou numa narrativa notoriamente diferente, onde o humor está bem menos presente e, a componente dramática parece assumir um papel de maior relevo (e, a esse respeito, temos a dizer que este primeiro episódio consegue mesmo um par de momentos genuinamente emocionais). E, se a opção de transformar esta história na enésima variação do procedural (onde cada episódio corresponde à investigação dum caso separado) é brutalmente desapontante e extremamente desinspirada, a série acaba por conseguir superar a banalidade que esse registo lhe impõe, graças às suas excelentes sequências de ação e, acima de tudo, a uma ótima dupla de atores (Clayne Crawford, em especial, é eletrizante como Riggs), que partilham uma química palpável, oferecendo um grau de autenticidade deveras necessário à empreitada. Em conclusão, é possível assumir que não estamos perante nenhum futuro clássico televisivo, mas há por aqui suficientes pontos positivos para garantir um serão entretido em frente à televisão e, honestamente, não lhe pedíamos mais do que isso.

Texto de Miguel Anjos

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