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Crítica

"Animais Noturnos", de Tom Ford



Título Original: "Nocturnal Animals"
Realização: Tom Ford
Argumento: Tom Ford
Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson
Género: Drama, Thriller
Duração: 116 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/16
Data de Estreia (Portugal): 24/11/2016


Crítica: De caras, "Animais Noturnos" é cinema. E, é merecedor dessa distinção por fazer aquilo que muitos filmes não fazem, por ir aos mais recônditos lugares da mente humana e nunca vacilar nessa viagem, por se entranhar na nossa epiderme e nunca desaparecer, por nos ensinar que no nosso inconsciente se travam guerras íntimas das quais por vezes nem nos apercebemos, por nos ensinar que às vezes a vida não continua. Tom Ford, que já se tinha estabelecido como um autor essencial com a sua primeira obra (um filmão de nome "Um Homem Singular") sofistica a sua arte com a odisseia de uma galerista corroída pelo arrependimento, que é assombrada por um manuscrito de um romance escrito pelo seu ex-marido… Amy Adams e Jake Gyllenhaal roçam a perfeição como protagonistas (e, aqui podemos dizer o mesmo acerca de dois secundários de peso, Aaron Taylor-Johnson e Michael Shannon) e a banda-sonora do polaco Abel Korzeniowski a melhor do ano, mas é mesmo Ford quem rouba as atenções ao misturar elementos de melodrama classicista, série B de primeira linha e, até um pouco de alucinação lynchiana, construindo assim uma obra colossal e, em última instância, absolutamente devastadora sobre a vida que nunca vivemos, as palavras que nunca dissemos e as emoções que nunca sentimos, que é afinal igual ao olhar das suas personagens centrais: desolada.

10/10
Texto de Miguel Anjos

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