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Crítica: "Suburbicon", de George Clooney Tudo começa com uma montagem em jeito publicitário, onde as corres animadas e garridas se assumem como símbolos, para a existência aparentemente calma de uma comunidade americana idílica. No entanto, essa imagem oculta preconceitos alarmantes, que vêm à tona quando uma família negra, se muda para esta violenta comunidade branca, nos anos 50. Ora e, é precisamente neste conturbado cenário de muitas contrições, que conhecemos o clã Lodge. Bastiões da classe média local, encarados como gente respeitável pela vizinhança, que cometem os mais imorais atos de violência, enquanto ninguém em seu torno se interessa minimamente pela conduta dos membros caucasianos do bairro. Clooney que, como realizador já nos deu objetos cinematográficos fascinantes e desastres impossíveis de acompanhar, está na sua melhor forma em “Suburbicon”, construindo uma sátira negríssima e permanentemente desencantada à América de Trump. É um filme deliciosament
Crítica: "Ele Vem à Noite" ("It Comes At Night"), de Trey Edward Shults Queremos acreditar que a nossa mente é um lugar seguro. Que as nossas atitudes corresponderão sempre às de humanos civilizados, incapazes de cometer atos que normalmente associamos unicamente a animais irracionais, devido à brutalidade que acarretam. No entanto, com “Ele Vem à Noite”, Trey Edward Shults resolveu questionar esses pensamentos esperançosos. Aqui, tudo acontece na casa de uma família tipicamente americana, nos confins de uma floresta. Lá fora, encontramos o apocalipse. E, neste cenário francamente inóspito, a paranóia e o medo parecem nunca se dissipar… Está montada a estrutura de um melodrama familiar, com um toque do mais profundo horror, onde nunca nos pregam sustos de rompante (um infantilismo que, infelizmente, ainda surge em demasiadas produções). Ao invés, Shults joga com os mais clássicos elementos do cinema: a escuridão, os frequentes e longos silêncios, o clima
Destaque da Semana: "Ele Vem à Noite" ("It Comes At Night"), de Trey Edward Shults
Crítica: "Tempo de Recomeçar" ("The Bachelors"), de Kurt Voelker Em tempos dominados por blockbusters vistosos, acompanhados por campanhas de marketing francamente ruidosas, ainda haverá espaço para um acontecimento tão discreto como este? Enfim, os resultados nas bilheteiras podem andar prontos para provar que não, mas importará sinalizar o lançamento de uma fita assim tão charmosa e simples. “Tempo de Recomeçar”, de Kurt Voelker, não vem oferecer sequências de ação imponentes, efeitos visuais de encher o olho ou, uma narrativa com reviravoltas de deixar o espetador com um torcicolo, no entanto, é um conto humanista, sobre emoções complexas que nunca tenta simplificar as situações em que as suas personagens se veem envolvidas. Nele, acompanhamos um pai e filho em luto, que se mudam para o outro lado do país, onde o primeiro conseguiu um emprego, graças a uma amizade de longa duração com o reitor de uma prestigiada escola privada. Uma vez lá, ambos conhecem
Crítica: "Um Ritmo Perfeito 3" ("Pitch Perfect 3"), de Trish Sie Passaram sete anos desde “Um Ritmo Perfeito”, como este terceiro e último tomo faz questão de nos relembrar de maneira mais ou menos constante. E, faz sentido, nem que seja só por estarmos perante um dos únicos exemplos concretos de uma franquia, que se autoconstrui contra as expectativas do mundo. Afinal, não valerá a pena tentar reescrever a história e argumentar o contrário, no momento em que os estúdios Universal anunciaram a chegada de uma comédia sobre o quotidiano de um coro feminino, no liceu, as reações não traduziam o entusiasmo que se veio a confirmar nas bilheteiras. E, ao olhar para este término, não haverá como negar que assistimos a um crescimento notório e francamente admirável. O que outrora era uma pequena produção com muito para provar, corresponde agora a todo um evento, uma máquina bem-oleada, que sabe perfeitamente como agradar aos seus milhares de fãs. Nesse sentido,
Destaque da Semana: "Tempo de Recomeçar" ("The Bachelors"), de Kurt Voelker
"Roda Gigante" ("Wonder Wheel"), de Woody Allen Quem se lembra do cinema americano dos anos 50/60? De dramaturgos como Tennessee Williams, Eugene O'Neill ou Arthur Miller? Bom, nada mais, nada menos, que Woody Allen, cujo novo filme, poderá mesmo ser encarado como uma melancólica carta de amor à “idade de ouro” da escrita melodramática. Assim, viajamos precisamente até aos anos 50, em Coney Island, onde as imediações de um parque de diversões, se vão assumindo como palco para uma pequena tragédia familiar, entre os locais. Ginny é uma atriz frustradíssima, que trabalha numa marisqueira por um ordenado miserável, enquanto tenta educar o filho pirómano em construção e lida com o seu segundo marido, um operador de carrosséis e alcoólico em recuperação. A vida continua, sem nunca abandonar essa rotina boçal, até ao momento em que aparece em cena uma enteada, em fuga do mafioso com quem se casou… Assim, começa uma narrativa bem à moda antiga, onde Allen ence
Crítica: "Star Wars: Os Últimos Jedi" ("Star Wars: The Last Jedi"), de Rian Johnson Mencionemos o nome de Rian Johnson. O homem que assina a segunda aventura da terceira trilogia do universo “Star Wars” e, no processo, conseguiu mesmo uma proeza impressionante. Conceber 152 minutos de puro encantamento, onde tanto rimos, como choramos (e, ocasionalmente, até sentimos consideramos aplaudir). Isto, sem nunca ceder aos clichés, nem cair na repetição (“O Despertar da Força”, episódio anterior de J.J. Abrams, era impossivelmente charmoso, mas a narrativa limitava-se a reciclar “Uma Nova Esperança”). “Os Últimos Jedi” é um espetáculo cinematográfico monumental, com intensidade trágica e, quantias sempre muito bem doseadas de um sentido de humor infalível. Também aí, reside uma das mais interessantes virtudes do trabalho de Johnson, as suas narrativas levam-se a sério e, no entanto, isso nunca as impede de entraram por caminhos menos “pesadões”, aqui cruzam-se
Destaque da Semana: "Roda Gigante" ("Wonder Wheel"), de Woody Allen
"Derradeira Viagem", de Richard Linklater Richard Linklater permanece fiel aos valores humanistas que sempre guiaram o seu cinema. Assim sendo, aquilo que encontramos num título notável como “Derradeira Viagem é novamente o trabalho de um autor engenhoso e empático, quase única e exclusivamente interessado em filmar-nos. A nós e aos nossos problemas quotidianos, sempre com o devido tato narrativo, e sem nunca sentir a necessidade de tirar dividendos melodramáticos postiços ou estereotipar as suas personagens. Por outras palavras, realismo contundente, apresentando com ligeireza de tom e portento intelectual. Desta forma, o texano concebeu com este conto de um trio de ex-combatentes da Guerra do Vietname, que se reúnem para enterrar o filho de um deles (morto no Iraque…), uma requintadíssima longa-metragem, que não se assemelha a nenhuma outra no género em anos recentes. Invernal e melancólico, este é um cruzamento inspirado entre a comédia de amigos e o drama sob
Destaque da Semana: "Derradeira Viagem" Realização: Richard Linklater Argumento: Richard Linklater ,  Darryl Ponicsan Elenco: Steve Carell , Bryan Cranston , Laurence Fishburne
"Lucky", de John Carroll Lynch Os argumentistas Logan Sparks e Drago Sumonja são amigos de longuíssima data do emblemático Harry Dean Stanton (presença constante no panorama televisivo e cinematográfico internacional dos últimos 40 anos) e, decidiram inspirar-se nas suas histórias e vivências para escrever este bonito conto acerca da eminencia da morte. Conto esse, que o veterano Stanton abandonou a reforma para interpretar. O resultado, assinado por John Carroll Lynch , é um comovente adeus a uma lenda autência, pontuado por um requintado sentido de humor e concebido com uma economia narrativa francamente incomum (apenas 88 minutos). Em “Lucky” , conhecemos um nonagenário que reside numa pequeníssima “terriola” do Arizona, onde nunca nada acontece, e todos se conhecem. O seu quotidiano rege-se por uma rotina estrita. No entanto, certo dia, depois do seu amigo Howard ( David Lynch , um dos autores que mais trabalhou com Stanton ) lhe contar acerca do infeliz d
Crítica: "I Love You, Daddy", de Louis C.K. O mundo nunca mais olhará Louis C.K. da mesma maneira, depois de cinco acusações de assédio sexual. E, no processo, a sua primeira longa enquanto cineasta aparenta ter sido severamente punida nos Estados Unidos, a ponto do distribuidor local o ter abandonado “à morte”. Lamentável, em especial, quando temos em conta que “I Love You, Daddy” é um dos mais singulares acontecimentos cinematográficos do ano. Uma crónica negra e melancólica sobre um humorista que necessita de lidar com a atração que a filha menor, sente por um cineasta de quase 70 anos, sobre quem recai a suspeita de um caso de pedofilia nunca confirmado. As influências de Woody Allen (sendo “Manhattan” uma fonte de inspiração particularmente notória) serão mais ou menos óbvias e, as temáticas que se discutem (sexo, política, divórcio ou paternidade, mencionando apenas alguns), acompanhadas daquele humor tipicamente depreciativo, pertencem muito claramente aos câ
Destaque da Semana: "I Love You, Daddy", de Louis C.K.
Primeiras Imagens: "Mary Magdalene", de Garth Davis
Crítica: "Woodshock", de Laura Mulleavey e Kate Mulleavey Só muito raramente nos encontramos nesta situação com um filme, porém felizmente ainda existem casos pontuais disso mesmo. Ora e, queremos com isto dizer, que Laura e Kate Mulleavy compuseram com o seu “Woodshock”, um elegante quadro de imensa melancolia, que rapidamente se transforma numa experiência intoxicante e hipnótica, que nunca poderíamos descrever corretamente, recorrendo a palavras. Tudo acontece em torno de Dunst, aqui como uma mulher, que se vê eternamente aprisionada numa espiral decadente, após o falecimento da mãe, que ameaça aniquilá-la a ela e, a todos os homens que a rodeiam. É um filme indescritível, pleno de muitas sensações e riscos, que nos conduz por entre um universo desolado, de isolamento e mágoa cortante com mão de mestre. E, Kirsten Dunst é simplesmente extraordinária. Realização: Kate Mulleavy , Laura Mulleavy Argumento: Kate Mulleavy , Laura Mulleavy Elenco: Kirsten D
Crítica: "Só Para Bravos" ("Only The Brave"), de Joseph Kosinski Tanto nos queixamos do quase desaparecimento daquele cinema comercial de qualidade, pensado para um público adulto e inteligente, que Hollywood costumava produzir "como se não houvesse amanhã", que se torna irónico que quando surge um título assim, ninguém lhe preste atenção. Ora, esse aparenta ser o caso desta excelente fita do arquiteto tornado cineasta Joseph Kosinski. Uma homenagem sincera, digna e genuinamente comovente a um grupo de bombeiros profissionais do Arizona, os Granite Mountain Hotshots, que em 2013, combateram heroicamente um incêndio, que deflagrou no coração dos Estados Unidos. Sabiamente, Kosinski, que é oriundo do mundo dos blockbusters multimilionários, escolheu evitar a espetacularidade exacerbada (e, demos— lhe mérito, também não se "atirou" para o sentimentalismo mais banal) e, resolveu dar prioridade as suas personagens e aos seus problemas quotidi
Destaque da Semana: "Só Para Bravos" ("Only The Brave"), de Joseph Kosinski
Crítica: "A Vida de um Génio" ("Rebel In The Rye"), de Danny Strong Comecemos por mencionar o óbvio. Kevin Spacey nunca mais será olhado como antes. E, “A Vida de um Génio” consta entre os mais entediantes e genéricos títulos nacionais dos últimos anos. Posto isto, nem os comportamentos questionáveis de um ator, nem uma nomenclatura infeliz, constituem razões para ignorar um bom filme e, algures por baixo dessas pequenas problemáticas é mesmo isso, que encontramos aqui. Colocado de forma manifestamente simplista, esta estreia na realização do argumentista Strong é um caso de exemplar de cinema adulto, arrumadinho e extremamente bem atuado, como não recebemos todos os dias. Um retrato afetuoso e ocasionalmente comovente de um dos maiores romancistas de todo o sempre, J.D. Salinger, pensado e executado por um fã confesso, que acompanha a sua odisseia, começando como um adolescente ambicioso numa Nova Iorque intelectual e, culminando no homem que se tornou nu
Destaque da Semana: "A Vida de um Génio" ("Rebel In The Rye"), de Danny Strong
Crítica: "Mães à Solta 2", de Jon Lucas, Scott Moore “Mães à Solta” não se contou entre os melhores filmes do passado ano, mas foi muito claramente um dos mais extraordinariamente prazerosos. Como tal, construir algumas expectativas para esta sequela, seria sempre mais ou menos inevitável. E, felizmente, ao convocar as mães das nossas personagens (“avós” estas, encarnadas com distintos graus de brilhantismo por Christine Baranski, Susan Sarandon e Cheryl Hines), para um par de semanas de celebração natalícia (a narrativa começa algum tempo, antes desta muito antecipada noite), resultou numa das melhores continuações dos últimos anos. Uma sequela, genuinamente inteligente, que sabe como “brincar” com um conceito já de si bastante interessante (uma comédia desbragada, sobre as pressões quotidianas, que contrariamente ao habitual, tem mulheres no seu centro) e, dele retirar inúmeros momentos humorísticos, que nunca falham. Se é grande cinema? Não, mas é uma das melhore
Primeiras Imagens: "Hostiles", de Scott Cooper
Primeiras Imagens: "Downsizing", de Alexander Payne
"Shot Caller: Sobreviver a Todo o Custo", de Ric Roman Waugh Jacob Harlon era um homem exemplar. Um corretor endinheirado, com uma família feliz, uma mansão imponente e, um bom círculo de amigos. Enfim, uma vida perfeita. No entanto, tudo isso desaparece uma noite, quando tem um acidente de viação enquanto está alcoolizado, que resulta no falecimento do melhor amigo e, no seu encarceramento numa prisão de alta segurança, onde se encontra constantemente rodeado por criminosos de carreira. E, num contexto assim tão hostil, a única forma de sobreviver parece mesmo ser um custoso processo de adaptação, que culminará na aproximação do outrora comum e simpático Jacob da insidiosa Irmandade Ariana. “Shot Caller”, começa por estabelecer esse contraste, entre o homem que o corretor outrora foi e, o ameaçador criminoso em que necessitou de se tornar (transformação completa por uma nova alcunha, Money). Desta forma, concretizando a ideia que ocupa o centro da sua narrativa, no
"Marcas de Guerra" ("Thank You For Your Service"), de Jason Hall Pensemos em “Os Melhores Anos das Nossas Vidas” (1950). Clássico intemporal, acerca do regresso a casa de um trio de veteranos da Segunda Guerra Mundial. E, agora pensemos num equivalente contemporâneo a esse título de William Wyler. De forma mais ou menos simplista, poderemos descrever assim esta primeira longa-metragem de Jason Hall, “escriba” de “Sniper Americano” (Clint Eastwood, 2014), que volta às lutas quotidianas, de quem precisa urgentemente de uma ajuda que teima em não vir, neste digníssimo melodrama classicista, bem à moda de uma certa produção americana “à antiga”. Nele, retratam-se as vidas de Adam, Solo e Billy (interpretados com justeza por Miles Teller, Beulah Koale e Joe Cole, respetivamente). Soldados com algumas comissões no Iraque, que chegam à pequena cidade onde residem, depois de um incidente traumático (que, apenas serviria como um infeliz clímax, para longos meses de
Destaque da Semana: "Marcas de Guerra" ("Thank You For Your Service"), de Jason Hall
"Deadpool 2", de David Leitch
"A Vida de Brad" ("Brad's Status"), de Mike White Ainda existem cineastas, capazes de encarar as suas personagens enquanto pessoas reais, com problemas tangíveis e, não como meros estereótipos? Felizmente, sim e, Mike White é um deles. Um antigo colaborador de gente como Richard Linklater ou Miguel Arteta, que consegue com esta sua segunda longa-metragem, juntar-se às impressionantes fileiras dos resistentes do cinema americano contemporâneo, que quando confrontados com a ascensão meteórica dos super-heróis, resolveram refugiar-se num realismo humaníssimo. Para tal, encenando um pequeno e tocante conto melancólico, sobre um homem de meia-idade, que tenta perceber onde e como é que a vida lhe passou ao lado, ao mesmo tempo que acompanha o filho à beira de entrar na universidade em entrevistas de admissão. Engenhoso como sempre, White sabiamente constrói quase todo o filme na mente do seu protagonista, Brad (interpretado por um portentoso Ben Stiller, qu