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Crítica

"Viver na Noite", de Ben Affleck


Título Original: "Live By Night"
Realização: Ben Affleck
Argumento: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Chris Messina, Zoe Saldana, Elle Fanning
Género: Crime, Drama
Duração: 128 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/16
Data de Estreia (Portugal): 12/01/2017

Há uns anos atrás, Ben Affleck andava nas "ruas da amargura" e, basicamente ganhava a vida a fazer pequenos papéis em filmes (maioritariamente medíocres) que nem recebiam críticas positivas, nem se salvavam nas bilheteiras. Porém, tudo mudou drasticamente no momento em que este decidiu pegar num romance de Dennis Lehane e, levá-lo ao grande ecrã. Dessa decisão, resultou esse conto moral densamente fascinante que é o seu "Vista Pela Última Vez" que não só fez com que o seu nome voltasse à ribalta enquanto ator (e, importa lembrar que a ele se seguiram colaborações com alguns dos mais vitais cineastas contemporâneos como Terrence Mallick ou David Fincher), como o transformou naquele novo realizador a quem vale a pena prestar atenção. Serve esta enorme introdução, para dizer que passada uma década Affleck escolheu voltar ao lugar onde foi feliz, ao universo literário de Lehane num filme que embora diametralmente distinto em todos os sentidos de "Vista Pela Última Vez" acaba por ir de encontro a ele, quando menos esperamos. No centro de tudo, está a odisseia moral de um homem (Affleck) determinado a nunca mais estar sob os comandos de um outro homem, após os tempos passados a combater numa guerra que ainda o atormenta. Conto intimista, com fôlego de épico do mundo do crime sobre um homem que se vê forçado a confrontar os seus próprios princípios, tendo como pano de fundo uma sociedade amoral, dominada pela violência e crueldade, que se conta entre as melhores tentativas recentes de construir uma fita de gangsters clássica (na linha de títulos como "Anjos com a Cara Negra"). Além disso, o elenco é incrível (Chris Messina, no papel do melhor amigo do protagonista rouba todas as sequências em que é colocado) e, o tiroteio final é um feito de encenação e edição tamanho que só para ver os seus cinco espantosos minutos, já valeria a pena pagar o preço do bilhete.

8/10

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