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Crítica

"Manchester By The Sea", de Kenneth Lonergan


Título Original: "Manchester By The Sea"
Realização: Kenneth Lonergan
Argumento: Kenneth Lonergan
Género: Drama
Duração: 135 minutos
Distribuição: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 05/01/2017

Há filmes que nos dão um murro no estomago e, depois há outros que nos dão uma tareia completa. E, é precisamente nessa segunda categoria que encontramos este monumento chamado "Manchester By The Sea", uma duríssima viagem pelos labirintos do desespero, onde seguimos a odisseia trágica de um contínuo de poucas palavras, que se vê obrigado a regressar à sua cidade natal para tomar conta do sobrinho, na sequência do falecimento do irmão. História simples, mas absolutamente devastadora, que o mestre Lonergan (que assina aquela que é apenas a sua terceira longa-metragem numa carreira que já tem mais de quinze anos) encena com um brilhantismo ímpar, nunca sentindo a necessidade de se agarrar aos mais banais clichés dramáticos ou emocionais, para comover o seu espetador com a serenidade melancólica com que retrata a completa falência espiritual do homem consciente da impossibilidade de reparar os traumas do passado, mostrando-nos que por vezes não existe maneira de reparar as ações que cometemos e, que a vida nem sempre continua como gostávamos de acreditar. Resultando assim numa prodigiosa obra-prima, delicadamente arrasadora e belissimamente atuada (Casey Affleck nunca esteve tão bem e, aqui tem a interpretação do ano, comunicando mais em olhares e gestos do que muitos dos seus colegas de profissão conseguem com infindáveis páginas de diálogo) que é afinal igual ao olhar das suas personagens: desoladíssima.

10/10
Texto de Miguel Anjos

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