Crítica: "Toni Erdmann", de Maren Ade
Título Original: "Toni Erdmann"
Realização: Maren Ade
Argumento: Maren Ade
Elenco: Sandra Hüller, Peter Simonischek, Michael Wittenborn
Género: Comédia,
Drama
Duração: 162
minutos
Distribuidor: Alambique
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 16/02/2017
Grande
acontecimento cinematográfico desta temporada: Maren Ade, realizadora alemã que
conhecemos através do belíssimo "Todos os Outros" (2009), retorna com
o momento mais saliente da sua carreira e, também um dos filmes mais singulares
que veremos neste ano. Chama-se "Toni Erdmann" e, conta a história
deliciosamente caricata de um homem envelhecido, solitário e constantemente
brincalhão (recorrendo a uma série de adereços, como uma grotesca dentadura
postiça ou uma cabeleira bem vistosa para as partidas que prega), com um
coração de ouro e boas intenções, que ruma até Bucareste na sequência do falecimento
do seu cachorro, para mostrar à filha (que lá se encontra a trabalhar como
consultora) que a vida não é só o trabalho. E, escusado será dizer que esta
premissa podia ter redundado numa comédia banalmente caricatural (e, teremos um
remake americano, onde os riscos de tal coisa são alarmantes), porém Ade
apresenta-nos toda esta narrativa num desarmante registo meio melancólico, meio
burlesco, que arranca muitas e sonoras gargalhas, um par de lágrimas e, no
processo constrói um bonito conto sobre a libertação física e espiritual (a
atingir o seu auge numa sequência cómica impagável no terceiro ato), que é
também uma sátira implacável a uma sociedade onde os relacionamentos pessoais
se passaram a pautar pelo seu valor material e, o progresso económico passou a
ser mais importante do que as condições de vida das pessoas. É uma das mais
hilariantes comédias dos últimos tempos, mas também é muito mais do que "apenas"
isso e cinema assim tão desafiante e único não poderá nunca ser ignorado.
9/10
Texto de Miguel Anjos
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