Crítica: "Vedações", de Denzel Washington
Título Original: "Fences"
Realização: Denzel Washington
Argumento: August Wilson
Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Mikelty Williamson, Jovan Adepo
Género: Drama
Duração: 139 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data De Estreia (Portugal): 23/02/2017
Realização: Denzel Washington
Argumento: August Wilson
Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Mikelty Williamson, Jovan Adepo
Género: Drama
Duração: 139 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data De Estreia (Portugal): 23/02/2017
Estamos ainda na ressaca dos dois anos passados em que a Academia só nomeou brancos nas suas quatro categorias de interpretação (quando cada vez mais cineastas com talento e vontade para contar histórias sobre outras vivências emergiam, com trabalhos notáveis para dizer o mínimo), pelo que é natural que o mundo tenha encarado as nomeações de Moonlight (obra-prima absoluto de um jovem mestre chamado Barry Jenkins) e Vedações como uma espécie de redenção da parte dessa mesma instituição pelos últimos anos, ao invés de como distinções justas para objetos cinematográficos de grande interesse. Enfim mencionamos a conversa em torno destes prémios não porque importem minimamente (e, qualquer um que saiba como funcionam diria que importa olhar para os mesmos mais como uma cerimónia gira do que qualquer outra coisa), mas sim porque num tempo em que se discutem obras como se de jogadores numa competição desportiva se tratassem, é fundamental relembrar o que de facto está em jogo (o que não constitui uma tentativa de fazer um trocadilho foleiro). Nomeadamente, a estreia de uma película que ousa fazer algo que nos dias que correm, é um risco incomportável para muitos: criar uma narrativa, que tem como centro as belíssimas composições dos seus atores (não só os protagonistas Denzel Washington e Viola Davis, mas também um excelente elenco de secundários onde encontramos gente como Stephen Henderson e Mykelti Williamson), para isso o cineasta em questão (nada mais, nada menos, do que o próprio Washington) apostou numa peça primorosa (distinguida com o prémio Pulitzer, em 1987) da autoria August Wilson, acerca de uma família de Pittsburgh, na década de 1950, toda ela marcada pela figura dominante do pai, um homem do lixo atormentado pela vida que nunca viveu, que vai levando uma existência destrutiva entre a dependência do álcool e a marginalização social, sempre em rota de colisão com o filho (Jovan Adepo), com quem mantém uma relação fria, marcada pela responsabilidade ao invés do amor (como o mesmo clarifica naquela que será muito claramente uma das sequências mais intensas do filme). É cinema intimista, que valoriza o peso das palavras e os movimentos dos corpos, mais do que quaisquer outros artifícios, para nos levar até este universo onde a ideia do Sonho Americano surge no corpo de uma promessa utópica e inalcançável, tudo isto claro está alicerçado num trabalho de atuação inatacável da parte de todos os intervenientes, embora as coisas extraordinárias que este Washington espiritualmente quebrado como nunca antes, que tem aqui aquele que será talvez o mais impressionante momento da sua carreira, atingindo o seu auge numa cena à janela que é simultaneamente uma aula de interpretação e um golpe magistral de mise en scene. Se a Academia se redimiu dos seus pecados ao nomeá-lo? Talvez, ligeiramente, porém reduzir um pedaço de cinema assim tão impressionante a uma distinção tão banal, não mais é do que empobrecer a discussão cinéfila. Por isso, ide caro leitor, ouvir histórias de outras vivências porque também é para isso que o cinema enquanto arte serve.
9/10
Texto de Miguel Anjos
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