Crítica: "Vale do Amor", de Guillaume Nicloux
Título Original: "Valley of Love"
Realização: Guillaume Nicloux
Argumento: Guillaume Nicloux
Género: Drama
Duração: 91 minutos
Distribuição: Leopardo Filmes
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 30/02/2017
Por vezes, surgem acontecimentos assim. Filmes de uma beleza incomensurável, mas não espalhafatosa, onde narrativas contundentes sobre temas que nos dizem muito, um elenco dedicado e uma mise en scene sensível se encontram em perfeita comunhão. Filmes como o Vale do Amor, nova longa-metragem de um muito talentoso cineasta gaulês, que temos tido o prazer de ver crescer, Guillaume Nicloux (conhecemos o seu cinema, graças a obras tão singularmente fascinantes como A Religiosa ou O Rapto de Michel Houellebecq), que promove o reencontro de dois dos seus mais emblemáticos conterrâneos, Isabelle Huppert e Gérard Depardieu, passados 36 anos desde o clássico Loulou, nesta história de um casal, há muito separado, que se reúne novamente graças a uma carta de um filho negligenciado, que cometera suicídio seis meses antes e, lhes encomenda agora uma peregrinação até ao Vale da Morte, Califórnia, o sítio mais baixo e quente da Terra, onde aparecerá o defunto. Ambos comparecem, embora só um deles acredite genuinamente na carta (Huppert), para uma odisseia de 11 dias, que o cineasta encena com invejável sofisticação e, os dois atores habitam (sim, porque num filme assim não se atua, vive-se) de maneira notável (tanto que só mesmo para os ver, já valeria a pena pagar o preço do bilhete), conduzindo a uma obra enigmática, hipnótica e fantasmagórica, que comove sem nunca cair em sentimentalismos baratos e, apaixona com uma predisposição declarada para a ambiguidade. É mesmo caso, para dizer que são raros, mas por vezes surgem acontecimentos assim. Fitas como o Vale do Amor, que não são para quem quer, apenas para quem acredita. Em quê? Nos poderes redentores do cinema, claro está.
9/10
Texto de Miguel Anjos
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