Crítica (Netflix): "Vagabundos", de Adam Leon
Título Original: "Tramps"
Realização: Adam Leon
Argumento: Adam Leon
Género: Comédia, Romance
Duração: 82 minutos
Para muitos, Adam Leon não será exatamente um nome sonante, afinal, este autor oriundo da área mais independente da produção cinematográfica norte-americana, tinha até pouco tempo, uma única longa-metragem na sua filmografia, uma comédia dramática intitulada Gimme The Loot (IndieLisboa 2013), que uma distribuição limitadíssima, cortesia de um mercado crescentemente menos interessado em produções de baixo orçamento (aliás, em tudo o que não envolva super-heróis e, muita pirotecnia), impediu de chegar a um público mais alargado. Felizmente, essa pérola coming of age tem vindo a ser alvo de um processo de redescoberta, que esperemos chame mais atenção para o novo projeto do seu cineasta, Tramps que, numa bonita demonstração de serviço público, o Netflix (importará não olhar o gigante do streaming, como um nome menor no circuito contemporâneo da distribuição) lançou diretamente na sua plataforma recentemente. No qual, acompanhamos a charmosa história de dois jovens, que passam uma atribulada noite juntos, após uma misteriosa troca de malas. Evidenciando consideráveis e apreciáveis doses de cinefilia, Leon vai cruzando influências fascinantemente distintas, que vão desde Frank Capra (especialmente, o muito amado Uma Noite Aconteceu), até ao neo-realismo de Roberto Rossellini. Desta maneira, contornando os habituais clichés do género, oferecendo uma série de momentos de humor e emoção absolutamente desarmantes e, apresentando ao público um dos mais esfuziantes pares, que o cinema norte-americano viu em muitos anos, na figura de um Callum Turner, reminiscente de um jovem Brando e, Van Patten com uma energia única, que pode mesmo servir como afirmação de uma nova e poderosa presença cinematográfica. E, numa época em que Hollywood, parece cada vez mais interessada em grandes produções, com efeitos visuais elaborados e sequências de ação impressionantes, enquanto os humanos vão sendo afogados pelas distrações digitais que os rodeiam, como renegar um cineasta competente, apostado em recuperar uma certa tradição intimista, através de um cinema que tem como palavra de ordem a empatia?
9/10
Texto de Miguel Anjos
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