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Cinema

Crítica: "The Last Face: A Última Fronteira", de Sean Penn



Título Original: "The Last Face"
Realização: Sean Penn
Argumento: Erin Dignam
Género: Drama
Duração: 132 minutos
Distribuidor: PRIS Audiovisuais
Classificação Etária: M/16
Data de Estreia (Portugal): 06/04/2017

Os cineastas portugueses têm revelado um crescente fascínio por histórias de amor épicas, situadas no continente africano, permitindo-lhes assim evocar uma certa ideia de "fantasia exótica", como evidenciada em títulos recentes como Tabu e Cartas da Guerra. E, porque isto das tendências cinematográficas toca a todos, agora chegou a vez de um autor norte-americano viajar até à Africa para contar a história de um "breve encontro" (e, sim esta é mesmo uma referência ao clássico homónimo de David Lean), entre duas almas solitárias, num território que não é o seu. Neste caso, o de dois médicos que prestam assistência em missões humanitárias das Nações Unidas, cujo amor vai florescendo num cenário caótico, onde prolifera violência e a miséria, tudo isto encenado por um ator tornado cineasta, que muitos conhecerão também como humanista, Sean Penn (recordemos, não assinava nada desde O Lado Selvagem, em 2007), aqui em busca de uma certa transcendência espiritual, que lembra o cinema de Mallick. E, o resultado é uma experiencia cinematográfica muito curiosa, que serve como um cruzamento manifestamente interessante, entre as conhecidas preocupações sociopolíticas do seu autor e, as influências que o mesmo foi "captando", a partir das suas colaborações com alguns dos mais brilhantes cineastas vivos (e, importará recordar, que Penn já trabalhou mesmo com uma longa lista de ilustres nomes), que acaba por corresponder a um melodrama, nem sempre muito equilibrado (há um par de diálogos fracamente pirosos e, esta estética mallickiana é pensada para um cinema menos narrativo e, mais abstrato), mas consistentemente empenhado num romantismo cândido comovente e humanismo inquebrável, que nunca vacila na hora de retratar a brutalidade deste cenário desolado. Isto, complementado pelas belíssimas interpretações de Bardem e Theron (entre os restantes membros do elenco, contam-se grandes nomes como Jared Harris, Jean Reno e Adèle Exarchopoulos, mas nenhum tem muito que fazer), corresponderá a uma das boas surpresas de uma temporada pascal, como sempre dominada por títulos mais leves.

8/10
Texto de Miguel Anjos

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