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Cinema

Crítica: "Planeta dos Macacos: A Guerra", de Matt Reeves


Realização: Matt Reeves
Género: Drama, Ficção-Cientifica, Ação
Duração: 140 minutos
Distribuidor: Big Picture Films
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 13/07/2017


Reencontramos as temáticas, que sempre marcaram as maiores e mais icónicas narrativas sobre o Velho Oeste norte-americano, nomeadamente, a procura de um equilibro moral e existencial numa terra ainda à procura de um enquadramento legal real e, aquele combate incessante com uma natureza cruel e inóspita, onde nunca ninguém está verdadeiramente seguro e, deparamo-nos também com uma mise en scene classicista, que automaticamente desperta memórias de David Lean. E, desenganem-se, os que pensam, que um blockbuster de verão, nunca conseguiria evocar tamanha herança, porque o terceiro tomo da franchise Planeta dos Macacos, assinado por Matt Reeves, é mesmo um épico atmosférico, tocante e silencioso, como Hollywood já não faz. Novamente, regressando ao amago de um herói, César (extraordinariamente interpretado por Andy Serkis), que na sequencia de um evento traumático, que por respeito ao leitor não revelaremos aqui, se vê consumido pelo mesmo ódio, que causou a guerra em que relutantemente teve de participar. Reeves, não se coíbe, nem infantiliza as situações retratadas, construindo um filme seríssimo, permanentemente centrado na jornada sacrificial de uma personagem, que funciona como uma contundente parábola sobre a nossa humanidade. Contido em cenas de ação (embora, as poucas sejam impressionantes), visualmente revolucionário e emocionalmente bombástico, pode muito bem estar aqui, o melhor blockbuster deste ano.

10/10
Texto de Miguel Anjos

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