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Crítica: "3 Gerações", de Gaby Dellal



Título Original: "Three Generations"
Realização: Gaby Dellal
Género: Drama, Comédia
Duração: 92 minutos
Distribuição: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 13/07/2017


Conhecemos os blockbusters multimilionários, com orçamentos exorbitantes e momentos espantosos de ação, destinados a viver para sempre em clips no YouTube, pelo que muitos assumirão que a nossa relação com o cinema norte-americano moderno, é de uma enorme proximidade. O problema, que geralmente tende a ser tragicamente esquecido, é que essa cinematografia não começa, nem acaba nos mais populares títulos na agenda dos grandes estúdios, que há um outro cinema, que sistematicamente não encontra o seu caminho para o nosso mercado. No entanto, através de lançamentos mais ou menos limitados, os nossos distribuidores parecem ter começado a apostar nalguns títulos "fora do baralho", digamos assim, durante os meses de verão. É o caso desta quarta longa-metragem da londrina Gaby Dellal, que coloca três atrizes fundamentais, de três diferentes gerações, para contar uma história visceralmente contemporânea. Nomeadamente, a da atribulada odisseia espiritual e física de um rapaz transexual e, das mulheres que o rodeiam. Temática manifestamente complexa e impossivelmente pessoal, que resultam num objeto delicado, construído com cuidado e rigor dramático, evitando quaisquer maniqueísmos morais ou panfletismos, que reconhece o valor irredutível de cada personagem e, no processo, brinda um fabuloso trio de atrizes, com papéis à sua altura. E, nesse sentido, sentimo-nos mesmo tentados a dizer que sozinhas, Naomi Watts, Elle Fanning e Susan Sarandon justificam o preço do bilhete.


8/10
Texto de Miguel Anjos

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