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Crítica: "Pedras Sombrias", de Eric Dennis Howell


Título Original: "Voice from the Stone"
Realização: Eric Dennis Howell
Argumento: Andrew Shaw
Género: Drama, Terror
Duração: 94 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 27/07/2017

Estamos na década de 50, quando uma jovem e solitária enfermeira britânica chega a uma mansão italiana, para ajudar um rapaz de nove anos, que nunca mais falou depois da morte da sua mãe, na primeira longa-metragem de Eric Dennis Howell, que supostamente reúne todos os elementos para um conto de horror moderno (à lá James Wan, que sozinho parece ter definido um tom e ambiência, que a maioria dos seus contemporâneos não se importam de seguir), mas felizmente encontramos aqui uma subversão manifestamente interessante da fórmula esperada. É que, claramente influenciado por um certo sentimento de fascínio ancestral pelos códigos do romance gótico, o cineasta concebeu uma intrincadíssima teia de eventos e personagens, onde o sobrenatural surge como um mecanismo necessário para explorar os fantasmas interiores, que se encerram no interior destas pessoas (e, esses sim, presenças constantes, omnipresentes e inevitavelmente inconfessáveis). Isto, justamente acompanhado por um trabalho de realização primoroso, que combina atmosferas lúgubres e inebriantes, com momentos de fulgurante intimismo, belissimamente atuados por atores como Emilia Clarke ou Marton Csokas, resultando numa excelente surpresa, que funciona também como a revelação de um muito promissor realizador, capaz de subtil e sabiamente ir contando histórias, que se entranham na epiderme do espetador com rapidez e eficácia.

8/10
Texto de Miguel Anjos

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