Avançar para o conteúdo principal
MOTELX: DIA 6 - "Tragedy Girls", de Tyler MacIntyre


"Tragedy Girls", de Tyler MacIntyre


Outrora um subgénero dominante nas bilheteiras e nos alinhamentos dos grandes estúdios americanos, tornou-se mais ou menos impossível não constatar o aparente falecimento do slasher movie. Afinal, onde andam os sucedâneos de Halloween, Pesadelo em Elm Street ou Sexta-Feira 13? Bom, não nos enganemos, até mesmo algumas das inúmeras sequelas dessas mesmas franquias, já andavam num limbo estranho, algures entre o completamente desastroso e o minimamente competente e, a maioria dos seus clones, contentava-se com uma atitude copista e desinspirada, no entanto, quando conseguíamos algo genuinamente interessante, nasciam novos clássicos. E, títulos como O Último Destino ou Gritos (ambos por sinal, alvos de belíssimas sequelas) contar-se-ão entre os mais deliciosamente astutos exemplares dessa mesma tendência. Posto isto, talvez tenha chegado o momento de juntar um novo título a essa lista, pois Tragedy Girls é um daqueles acontecimentos, que surgem do nada e nos deixam imediatamente fascinados. Essencialmente, um cruzamento entre a comédia de liceu à antiga (reminiscente de títulos como Clueless ou Heathers), com serial killer thriller, onde as nossas heroínas, são também as psicopatas, num enredo tão bizarro, como genial, que nos apresenta a duas melhores amigas, obcecadas por redes sociais, que sempre ambicionaram ser assassinas icónicas. O único problema é que são absolutamente terríveis no departamento dos homicídios, acabando por fazer com que os crimes que vão cometendo, se assemelham mais a estranhos acidentes que outra coisa. Segue-se portanto um festim de deliciosas referências cinematográficas, executadas com paixão pelo género e doses consideráveis de brilhantismo (surgem Holocausto Canibal, Halloween, O Último Destino, The Hunger Games, Mártires, entre muitos outros), que Tyler MacIntyre integra de maneira orgânica numa produção que é, afinal, dominada por uma cinefilia inabalável. E, se estamos nesse tópico, talvez valha a pena notar, que este é um filme especificamente construído para os fãs do género, que certamente terão uma experiência mais “completa”, que os espetadores meramente casuais do mesmo, mas, quando o resultado é tão original, subversivo e consistentemente hilariante, uma audiência mais limitada não corresponderá exatamente um problema. Assim, este é um fenómeno de culto à espera de um distribuidor que o conduza até ao seu público, com uma montagem vibrante, uma excecional dupla de atrizes e um sentido de humor imaculado, que se conta entre as maiores e mais deliciosas surpresas do MOTELX 2017. De MacIntyre esperamos muito…

Realização: Tyler MacIntyre
Género: Comédia, Terror

Duração: 96 minutos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Destroyer: Ajuste de Contas" O falhanço financeiro de um duo de produções conturbadas (“Aeon Flux” e “O Corpo de Jennifer”) remeteram Karyn Kusama a um silêncio demasiado longo. No entanto, em 2016, reencontrámo-la aos comandos de um filme francamente impressionante. Chamava-se “The Invitation” e convidava-nos a entrar na intimidade fantasmática de um homem que não conseguia ultrapassar um acontecimento traumático que o destruiu. Passou completamente ao lado do circuito comercial, contudo, tornou-se num fenómeno de culto em homevideo e deu visibilidade suficiente à sua autora para lhe permitir filmar com um orçamento mais alto (9 milhões), o apoio de um estúdio interessado em auxiliar cineastas ousados (a Annapurna) e um elenco preenchido por nomes sonantes para filmar o seu magnum opus , ou como diriam os românticos alemães do século XIX a sua Gesamtkunstwerk (“obra de arte total”). Trata-se do conto sanguinolento e melancólico de Erin Bell (Nicole Kidman). Uma
"Clímax", de Gaspar Noé Nos primeiros minutos de “Clímax” é-nos providenciado um plano aéreo de uma mulher ensanguentada a percorrer um mar de neve, eventualmente caindo prostrada no branco e nele se distendendo. É a chamada  god’s eye view , um enquadramento da visão divina, que contempla as minúsculas romagens humanas lá do alto, sempre com indiferença. Essa vista alonga-se, para encontrar uma árvore, numa panorâmica lenta que vai abrindo caminho para o horizonte, orientando-se de tal modo que coloca a rapariga no céu e, por conseguinte, Deus na terra. Ainda não terminaram os segundos iniciais da sexta longa-metragem de Gaspar Noé e o mesmo já declarou que as imagens delirantes a que seremos expostos nos seguintes 95 minutos, se encontraram num intervalo permanente e perturbante entre o olhar distante de um qualquer Deus terreno e a lógica sacralizadora de um artista em busca de sensações viscerais. Caso restem dúvidas, o ecrã é imediatamente apoderado por uma
"Juliet, Nua", de Jesse Peretz Quando uma comédia romântica funciona mesmo muito bem, dão-se dois acontecimentos intrinsecamente interligados. Primeiro, começamos a acreditar nas personagens em causa, e a reconhecermo-nos nelas. Segundo, os apontamentos humorísticos convencem-nos tão bem do ambiente de aparente ligeireza, que somos completamente surpreendidos, quando a narrativa nos confronta com temáticas sérias. Felizmente, “Juliet, Nua” constitui mesmo um desses pequenos milagres. Um olhar, simultaneamente, melancólico e hilariante sobre um trio de indivíduos, que tentam encontrar o melhor caminho possível para a felicidade, dentro das situações francamente complexas, que os “assombram”. Resumindo de maneira necessariamente esquemática, esta é a história de Annie (a sempre confiável Rose Byrne), uma mulher de meia-idade, oriunda de uma pequena vila britânica, daquelas onde nunca nada parece acontecer, que namora com o intelectual Duncan (Chris O’Dowd)