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"A Vida de Brad" ("Brad's Status"), de Mike White



Ainda existem cineastas, capazes de encarar as suas personagens enquanto pessoas reais, com problemas tangíveis e, não como meros estereótipos? Felizmente, sim e, Mike White é um deles. Um antigo colaborador de gente como Richard Linklater ou Miguel Arteta, que consegue com esta sua segunda longa-metragem, juntar-se às impressionantes fileiras dos resistentes do cinema americano contemporâneo, que quando confrontados com a ascensão meteórica dos super-heróis, resolveram refugiar-se num realismo humaníssimo. Para tal, encenando um pequeno e tocante conto melancólico, sobre um homem de meia-idade, que tenta perceber onde e como é que a vida lhe passou ao lado, ao mesmo tempo que acompanha o filho à beira de entrar na universidade em entrevistas de admissão. Engenhoso como sempre, White sabiamente constrói quase todo o filme na mente do seu protagonista, Brad (interpretado por um portentoso Ben Stiller, que ainda há umas semanas vimos num brilhante filme de Noah Baumbach, “The Meyerowitz Stories”), pondo-nos a seguir os seus pensamentos e preocupações constantes, num tom apropriadamente melancólico, apenas interrompido por ocasiões apontamentos humorísticos. É um filme imenso, que explora verdades desconfortáveis, com inteligência e delicadeza e, Stiller e Austin Abrams apresentam duas das mais memoráveis composições do ano.


Realização: Mike White
Argumento: Mike White
Género: Drama
Duração: 102 minutos

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