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A mostrar mensagens de dezembro, 2017
Crítica: "Suburbicon", de George Clooney Tudo começa com uma montagem em jeito publicitário, onde as corres animadas e garridas se assumem como símbolos, para a existência aparentemente calma de uma comunidade americana idílica. No entanto, essa imagem oculta preconceitos alarmantes, que vêm à tona quando uma família negra, se muda para esta violenta comunidade branca, nos anos 50. Ora e, é precisamente neste conturbado cenário de muitas contrições, que conhecemos o clã Lodge. Bastiões da classe média local, encarados como gente respeitável pela vizinhança, que cometem os mais imorais atos de violência, enquanto ninguém em seu torno se interessa minimamente pela conduta dos membros caucasianos do bairro. Clooney que, como realizador já nos deu objetos cinematográficos fascinantes e desastres impossíveis de acompanhar, está na sua melhor forma em “Suburbicon”, construindo uma sátira negríssima e permanentemente desencantada à América de Trump. É um filme deliciosament
Crítica: "Ele Vem à Noite" ("It Comes At Night"), de Trey Edward Shults Queremos acreditar que a nossa mente é um lugar seguro. Que as nossas atitudes corresponderão sempre às de humanos civilizados, incapazes de cometer atos que normalmente associamos unicamente a animais irracionais, devido à brutalidade que acarretam. No entanto, com “Ele Vem à Noite”, Trey Edward Shults resolveu questionar esses pensamentos esperançosos. Aqui, tudo acontece na casa de uma família tipicamente americana, nos confins de uma floresta. Lá fora, encontramos o apocalipse. E, neste cenário francamente inóspito, a paranóia e o medo parecem nunca se dissipar… Está montada a estrutura de um melodrama familiar, com um toque do mais profundo horror, onde nunca nos pregam sustos de rompante (um infantilismo que, infelizmente, ainda surge em demasiadas produções). Ao invés, Shults joga com os mais clássicos elementos do cinema: a escuridão, os frequentes e longos silêncios, o clima
Destaque da Semana: "Ele Vem à Noite" ("It Comes At Night"), de Trey Edward Shults
Crítica: "Tempo de Recomeçar" ("The Bachelors"), de Kurt Voelker Em tempos dominados por blockbusters vistosos, acompanhados por campanhas de marketing francamente ruidosas, ainda haverá espaço para um acontecimento tão discreto como este? Enfim, os resultados nas bilheteiras podem andar prontos para provar que não, mas importará sinalizar o lançamento de uma fita assim tão charmosa e simples. “Tempo de Recomeçar”, de Kurt Voelker, não vem oferecer sequências de ação imponentes, efeitos visuais de encher o olho ou, uma narrativa com reviravoltas de deixar o espetador com um torcicolo, no entanto, é um conto humanista, sobre emoções complexas que nunca tenta simplificar as situações em que as suas personagens se veem envolvidas. Nele, acompanhamos um pai e filho em luto, que se mudam para o outro lado do país, onde o primeiro conseguiu um emprego, graças a uma amizade de longa duração com o reitor de uma prestigiada escola privada. Uma vez lá, ambos conhecem
Crítica: "Um Ritmo Perfeito 3" ("Pitch Perfect 3"), de Trish Sie Passaram sete anos desde “Um Ritmo Perfeito”, como este terceiro e último tomo faz questão de nos relembrar de maneira mais ou menos constante. E, faz sentido, nem que seja só por estarmos perante um dos únicos exemplos concretos de uma franquia, que se autoconstrui contra as expectativas do mundo. Afinal, não valerá a pena tentar reescrever a história e argumentar o contrário, no momento em que os estúdios Universal anunciaram a chegada de uma comédia sobre o quotidiano de um coro feminino, no liceu, as reações não traduziam o entusiasmo que se veio a confirmar nas bilheteiras. E, ao olhar para este término, não haverá como negar que assistimos a um crescimento notório e francamente admirável. O que outrora era uma pequena produção com muito para provar, corresponde agora a todo um evento, uma máquina bem-oleada, que sabe perfeitamente como agradar aos seus milhares de fãs. Nesse sentido,
Destaque da Semana: "Tempo de Recomeçar" ("The Bachelors"), de Kurt Voelker
"Roda Gigante" ("Wonder Wheel"), de Woody Allen Quem se lembra do cinema americano dos anos 50/60? De dramaturgos como Tennessee Williams, Eugene O'Neill ou Arthur Miller? Bom, nada mais, nada menos, que Woody Allen, cujo novo filme, poderá mesmo ser encarado como uma melancólica carta de amor à “idade de ouro” da escrita melodramática. Assim, viajamos precisamente até aos anos 50, em Coney Island, onde as imediações de um parque de diversões, se vão assumindo como palco para uma pequena tragédia familiar, entre os locais. Ginny é uma atriz frustradíssima, que trabalha numa marisqueira por um ordenado miserável, enquanto tenta educar o filho pirómano em construção e lida com o seu segundo marido, um operador de carrosséis e alcoólico em recuperação. A vida continua, sem nunca abandonar essa rotina boçal, até ao momento em que aparece em cena uma enteada, em fuga do mafioso com quem se casou… Assim, começa uma narrativa bem à moda antiga, onde Allen ence
Crítica: "Star Wars: Os Últimos Jedi" ("Star Wars: The Last Jedi"), de Rian Johnson Mencionemos o nome de Rian Johnson. O homem que assina a segunda aventura da terceira trilogia do universo “Star Wars” e, no processo, conseguiu mesmo uma proeza impressionante. Conceber 152 minutos de puro encantamento, onde tanto rimos, como choramos (e, ocasionalmente, até sentimos consideramos aplaudir). Isto, sem nunca ceder aos clichés, nem cair na repetição (“O Despertar da Força”, episódio anterior de J.J. Abrams, era impossivelmente charmoso, mas a narrativa limitava-se a reciclar “Uma Nova Esperança”). “Os Últimos Jedi” é um espetáculo cinematográfico monumental, com intensidade trágica e, quantias sempre muito bem doseadas de um sentido de humor infalível. Também aí, reside uma das mais interessantes virtudes do trabalho de Johnson, as suas narrativas levam-se a sério e, no entanto, isso nunca as impede de entraram por caminhos menos “pesadões”, aqui cruzam-se
Destaque da Semana: "Roda Gigante" ("Wonder Wheel"), de Woody Allen
"Derradeira Viagem", de Richard Linklater Richard Linklater permanece fiel aos valores humanistas que sempre guiaram o seu cinema. Assim sendo, aquilo que encontramos num título notável como “Derradeira Viagem é novamente o trabalho de um autor engenhoso e empático, quase única e exclusivamente interessado em filmar-nos. A nós e aos nossos problemas quotidianos, sempre com o devido tato narrativo, e sem nunca sentir a necessidade de tirar dividendos melodramáticos postiços ou estereotipar as suas personagens. Por outras palavras, realismo contundente, apresentando com ligeireza de tom e portento intelectual. Desta forma, o texano concebeu com este conto de um trio de ex-combatentes da Guerra do Vietname, que se reúnem para enterrar o filho de um deles (morto no Iraque…), uma requintadíssima longa-metragem, que não se assemelha a nenhuma outra no género em anos recentes. Invernal e melancólico, este é um cruzamento inspirado entre a comédia de amigos e o drama sob
Destaque da Semana: "Derradeira Viagem" Realização: Richard Linklater Argumento: Richard Linklater ,  Darryl Ponicsan Elenco: Steve Carell , Bryan Cranston , Laurence Fishburne
"Lucky", de John Carroll Lynch Os argumentistas Logan Sparks e Drago Sumonja são amigos de longuíssima data do emblemático Harry Dean Stanton (presença constante no panorama televisivo e cinematográfico internacional dos últimos 40 anos) e, decidiram inspirar-se nas suas histórias e vivências para escrever este bonito conto acerca da eminencia da morte. Conto esse, que o veterano Stanton abandonou a reforma para interpretar. O resultado, assinado por John Carroll Lynch , é um comovente adeus a uma lenda autência, pontuado por um requintado sentido de humor e concebido com uma economia narrativa francamente incomum (apenas 88 minutos). Em “Lucky” , conhecemos um nonagenário que reside numa pequeníssima “terriola” do Arizona, onde nunca nada acontece, e todos se conhecem. O seu quotidiano rege-se por uma rotina estrita. No entanto, certo dia, depois do seu amigo Howard ( David Lynch , um dos autores que mais trabalhou com Stanton ) lhe contar acerca do infeliz d
Crítica: "I Love You, Daddy", de Louis C.K. O mundo nunca mais olhará Louis C.K. da mesma maneira, depois de cinco acusações de assédio sexual. E, no processo, a sua primeira longa enquanto cineasta aparenta ter sido severamente punida nos Estados Unidos, a ponto do distribuidor local o ter abandonado “à morte”. Lamentável, em especial, quando temos em conta que “I Love You, Daddy” é um dos mais singulares acontecimentos cinematográficos do ano. Uma crónica negra e melancólica sobre um humorista que necessita de lidar com a atração que a filha menor, sente por um cineasta de quase 70 anos, sobre quem recai a suspeita de um caso de pedofilia nunca confirmado. As influências de Woody Allen (sendo “Manhattan” uma fonte de inspiração particularmente notória) serão mais ou menos óbvias e, as temáticas que se discutem (sexo, política, divórcio ou paternidade, mencionando apenas alguns), acompanhadas daquele humor tipicamente depreciativo, pertencem muito claramente aos câ