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A mostrar mensagens de janeiro, 2018
Crítica: "The Post" Ainda recentemente descobrimos “O Caso Spotlight”. Uma tentativa muito bem-intencionada de ressuscitar uma certa tradição liberal hollywoodesca, só mesmo para depois se olvidar daquele sentimento de urgência propulsiva e de construir personagens de carne e osso. Por outras palavras, era bom existisse alguém com capacidade de evocar os prazeres de algum cinema clássico, mas, convenhamos, não é Pakula quem quer. E, precisamente no momento em que concluíamos que o thriller jornalístico estava “morto e enterrado”, eis que Steven Spielberg nos surpreende com um belíssimo filme à moda antiga. Chama-se “The Post” e, tem como centro um episódio fundamental da história da imprensa. Nomeadamente, a decisão do The Washington Post, de publicar os “Pentagon Papers”, contribuindo decisivamente para a reavaliação pública do envolvimento dos Estados Unidos no Vietname. O resultado é um fascinante labirinto narrativo, capaz de evocar perturbantes paralelismo
Crítica "Maze Runner: A Cura Mortal" No extenso panorama das aventuras apocalípticas sobre adolescentes temerários, a franquia “Maze Runner” ocupa um lugar vital. É que, contrariamente a muitos títulos com os quais partilha laços temáticos, as fitas baseadas no fenómeno literário homónimo de James Dashner, sempre souberam contar histórias de ficção-cientifica, com um genuíno sabor a série B e, ancoradas em personagens bem-construídas. E, felizmente, esses princípios permanecem neste terceiro e último capítulo, onde acompanhamos Thomas e os restantes sobreviventes, numa jornada sanguinolenta, que tem como finalidade impedir uma organização insidiosa de continuar a matar. O elenco é uniformemente excelente e o argumento mantem os acontecimentos empolgantes, sem nunca descurar os aspetos mais dramáticos da narrativa, no entanto, o que capta a retina do espetador é a destreza da mise en scène, que encena sequencias de ação imponentes vistosas, que trazem à memória
Destaque da Semana:  "The Post" Realização: Steven Spielberg Argumento: Liz Hannah , Josh Singer Elenco: Meryl Streep , Tom Hanks , Sarah Paulson
Crítica: "Mudbound: As Lamas do Mississípi" Durante muitos anos não se falava em racismo no cinema americano. Enfim, um passado marcado por títulos moralmente repreensíveis e uma sociedade ainda demasiado presa a preconceitos antigos, assim o exigiam. Porém, esse tabu começa a ser questionado e, por conseguinte, quebrado por uma nova geração de talentosos cineastas que, não ambicionam vergar-se a costumes ultrapassados. É o caso de Dee Rees, autora deste conto melancólico sobre dois soldados, um branco, outro negro, regressados da Segunda Guerra Mundial, ao Mississípi, no final da década de 40. Cruzando influências clássicas e contemporâneas, a realizadora encena esta odisseia com subtileza e humanismo, como evidenciado pela gestão atenta de um argumento, onde os pontos de vista se vão alternando, para melhor expor uma conjuntura de opressão e marginalização. Da doméstica frustrada de Carey Mulligan, ao homem trabalhador e diligente de Rob Morgan. Em “Mudbound:
Crítica: "Uma Mulher não Chora" Fatih Akin sempre filmou o seu meio: a comunidade de origem turca, residente na Alemanha. O mesmo acontece em “Uma Mulher não Chora”. Conto melancólico e contundentemente realista de uma mulher alemã (Diane Kruger), cujo marido (ele sim, turco) e o filho de 6 anos, são assassinados num atentado bombista, orquestrado por um movimento nazi emergente. O resultado é um estonteante filme político, capaz de absorver as mais ricas componentes de uma multiplicidade de géneros (melodrama familiar, thriller psicológico, entre outros), para conceber um labirinto narrativo bastante coeso e sempre interessante. Aqui, discutem-se temáticas fundamentais dos nossos dias, como a ascensão de movimentos extremistas na Europa contemporânea e, a possível inadequação das atuais estruturas de poder, para combater os seus avanços insidiosos, mas acima de tudo acompanha-se uma história muito humana. Afinal, “Uma Mulher não Chora” é um olhar amargo sobre
Crítica "Chama-me Pelo Teu Nome" “Call me by your name, and I'll call you by mine”, argumenta um dos amantes no culminar do êxtase que é a sensação de querer pertencer a alguém. Isto, numa sequência que começa precisamente com um plano dos seus corpos entrelaçados, como se se tornasse impossível averiguar onde um começa e o outro acaba. Assim é o momento que dá título ao mais recente filme de Luca Guadagnino que permanece como um invulgaríssimo artesão sensorial. Alguém, capaz de evocar os mais delicados e subtis sentimentos unicamente através das suas imagens. E, em “Chama-me Pelo Teu Nome”, foi exatamente isso que voltou a fazer. Encenou o esplendor e a fragilidade do impulso amoroso, envolvendo corpos e paisagens, imagens e sons, num comovente quadro visual, que nos contagia e transfigura. Sem nunca necessitar de ceder à mais vulgar acumulação de peripécias, o argumento do lendário James Ivory informa a ação com um saber de mestre e, os dois protagonista
Destaque da Semana:  "Chama-me Pelo Teu Nome" Realização: Luca Guadagnino Argumento: James Ivory Elenco: Thimothée Chalamet , Armie Hammer , Michael Stuhlbarg
"A Hora Mais Negra" ("Darkest Hour") Winston Churchill conseguiu mobilizar uma nação inteira contra um inimigo comum, utilizando somente a retórica, sob condições francamente dramáticas. Compreende-se, portanto, a necessidade quase “cíclica” que o cinema (em especial, o britânico) parece ter de regressar à sua imponente figura. E, nesse sentido, é com algum desapontamento que encontramos em “A Hora Mais Negra” um caso paradoxal, simultaneamente evidenciando inequívocos apontamentos de brilhantismo e, falhas embaraçosas que se tornam difíceis de perdoar. Afinal, o trabalho de mise en scène de Joe Wright, aliada à sumptuosa fotografia de Bruno Delbonnel asseguram um requinte cénico inegável, que gera até uma série de belíssimos momentos de cinema (a criança que contempla o avião, o bombardeamento, os planos constantes de um Churchill sempre enclausurado em espaços iluminados na escuridão, sinalizando a solidão latente do homem no poder) e, no elenco assisti
"Três Cartazes à Beira da Estrada" ("Three Billboards Outside Ebbing, Missouri"), de Martin McDonagh Grande acontecimento cinematográfico. O irlandês Martin McDonagh rumou até ao interior dos Estados Unidos, para filmar um drama contundente, eloquentemente disfarçado de comédia negra como o carvão. Chama-se “Três Cartazes à Beira da Estrada” e acompanha o caos sanguinolento que se vai espalhando numa pequena vila, quando uma mulher (Frances McDormand), farta do impasse na investigação ao homicídio grotesco da filha, resolve alugar um trio de imponentes cartazes, nos arredores de Ebbing, Missouri (o cenário da fita), de modo a desafiar diretamente a inação das forças policiais. O que se segue é um olhar melancólico e desencantado sobre uma comunidade devastada, que às tantas espelha o estado do mundo contemporâneo. Do preconceito latente ao luto que correu a protagonista até ao interior, contemplamos um microcosmos consumido e progressivamente aniquilado p
Destaque da Semana:  "Três Cartazes à Beira da Estrada" Realização: Martin McDonagh Argumento: Martin McDonagh Elenco: Frances McDormand , Woody Harrelson , Sam Rockwell
Crítica: "Um Desastre de Artista" ("The Disaster Artist"), de James Franco Em 2003, Tommy Wiseau assinou “The Room”. Um drama sobre um triângulo amoroso tão insondavelmente incompetente, que aparentava estar condenado a cair no esquecimento o mais rapidamente possível. No entanto, porque às vezes a vida é mais estranha que a ficção, esta produção catastrófica tornou-se num clássico de culto, devido aos seus méritos como comédia não intencional e, é hoje uma presença mais ou menos constante nos circuitos mais revivalistas da exibição contemporânea, surgindo anualmente em sessões especiais, um pouco por todo o lado. Ora e, nesse contexto, impõe-se uma pergunta: como é que um filme tão mau perdura tanto tempo? Bom, se quisermos interpretar esta comédia alternadamente satírica e sentimental do incansável James Franco, o segredo está na honestidade. É que, por mais que a notória falta de talento se evidenciasse, Wiseau e os seus companheiros possuíam um genuíno
Crítica: "O Sacrifício de um Cervo Sagrado" ("The Killing of a Sacred Deer"), de Yorgos Lanthimos O cinema de Yorgos Lanthimos permanece igual a si mesmo. Perturbador, clínico na sua frieza e desconfortavelmente hilariante. E, este conto moral, situado numa zona suburbana dos Estados Unidos, onde tudo aparenta ser idílico, pode mesmo ser a sua experiência mais arrepiante. Em causa, está um cirurgião cardíaco (uma estonteante performance de Colin Farrel), com mãos lindíssimas (não somos nós quem diz, são as restantes personagens), uma mulher imperscrutável e dois filhos “fofos” (Nicole Kidman, Raffey Cassidy e Sunny Suljic, respetivamente), cuja vida é lentamente arruinada por um estranho adolescente (Barry Keoghan), depois de o primeiro cometer um ato pecaminoso contra o segundo. Lanthimos nunca tinha evidenciado indícios de contenção, no que às componentes mais chocantes das suas narrativas diz respeito e, não será aqui que começa a fazê-lo. Aliás, no se
Destaque da Semana:  "O Sacrifício de um Cervo Sagrado" Realização:  Yorgos Lanthimos Argumento: Yorgos Lanthimos , Efthymis Filippou Elenco: Colin Farrell , Nicole Kidman , Barry Keoghan
Os 11 Melhores Filmes de 2017 Nota: Para a elaboração deste top, contaram unicamente os filmes que estrearam em Portugal no ano transacto, seja no circuito comercial (caso de 10 das 11 longas-metragens mencionadas), nos festivais, em serviços de streaming ou em Video on Demand. 1 –  “Chama-me Pelo Teu Nome” (“Call Me by Your Name”), de Luca Guadagnino (Lisbon & Sintra Film Festival) 1 –  “Mulheres do Século XX” (“20th Century Women”), de Mike Mills 2 –  “Moonlight”, de Barry Jenkins 3 –  “Manchester by the Sea”, de Kenneth Lonergan 4 –  “mãe!” (“mother!”), de Darren Aronofsky 5 – “Blade Runner 2049”, de Dennis Villeneuve 6 – “Wind River”, de Taylor Sheridan 7 – “A Cidade Perdida de Z” (“The Lost City of Z”), de James Gray 8 – “Silêncio” (“Silence”), de Martin Scorsese 9 – “A Vida de Brad” (“Brad's Status”), de Mike White 10 – “Foge” (“Get Out”), de Jordan Peele