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Crítica

"Chama-me Pelo Teu Nome"


“Call me by your name, and I'll call you by mine”, argumenta um dos amantes no culminar do êxtase que é a sensação de querer pertencer a alguém. Isto, numa sequência que começa precisamente com um plano dos seus corpos entrelaçados, como se se tornasse impossível averiguar onde um começa e o outro acaba. Assim é o momento que dá título ao mais recente filme de Luca Guadagnino que permanece como um invulgaríssimo artesão sensorial. Alguém, capaz de evocar os mais delicados e subtis sentimentos unicamente através das suas imagens. E, em “Chama-me Pelo Teu Nome”, foi exatamente isso que voltou a fazer. Encenou o esplendor e a fragilidade do impulso amoroso, envolvendo corpos e paisagens, imagens e sons, num comovente quadro visual, que nos contagia e transfigura. Sem nunca necessitar de ceder à mais vulgar acumulação de peripécias, o argumento do lendário James Ivory informa a ação com um saber de mestre e, os dois protagonistas são a personificação ideal da jubilosa exaltação da paixão que o cineasta ambiciona retratar. Um dos grandes filmes do ano.


Realização: Luca Guadagnino
Argumento: James Ivory
Género: Drama, Romance
Duração: 135 minutos

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