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Crítica:

"Pequena Grande Vida"


Alexander Payne permanece como um dos mais confiáveis cineastas americanos, possuindo uma pequena, mas, impressionante carreira, quase unicamente dedicada à construção de simples e comoventes narrativas, sobre o quotidiano de gente comum, na América interior. No entanto, em “Pequena Grande Vida” somos introduzidos a uma ambição que não lhe conhecíamos. Como assim? Pois bem, tudo acontece num futuro próximo, onde um rocambolesco processo de miniaturização de células parece surgir como uma solução ecológica para a sobrepopulação e as mudanças climáticas. Um sugestivo princípio para um conto de ficção-cientifica, portanto. Só que, Payne e Jim Taylor (antiquíssimo colaborador seu) quiseram ir mais longe e pensaram uma odisseia, algures entre a comédia gentil e o drama melancólico, que coloca o seu protagonista (um excelente Matt Damon), numa rota de colisão com alguns dos mais gritantes problemas da sociedade contemporânea. O resultado é uma sátira político-social, com piada e miolos, que se conta entre as melhores surpresas do momento.


Realização: Alexander Payne
Género: Drama, Comédia
Duração: 135 minutos

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