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Crítica: "Ammore e Malavita"


Convenhamos, que ao contemplar as ruidosas e rotineiras campanhas publicitárias que os estúdios americanos montam para os seus blockbusters, se torna complicado não assumir uma possível de algum ceticismo. Como se sentíssemos que já vimos tudo antes e, que os próximos anos, apenas têm para nos oferecer repetições temáticas, narrativas ou estéticas. Ora, claro está, que grandes cineastas conseguem sempre surpreender-nos, no entanto, às vezes deparamos com acontecimentos inqualificáveis, daqueles que surgem do nada e nos seduzem por completo. “Ammore e Malavita”, dos irmãos Manetti, conta-se mesmo entre esses filmes. Uma homenagem apaixonada a uma improvável lista de estupendos autores mundiais (começamos com Johnnie To, acabamos com Demy e, ainda sentimos Martone, Tarantino ou Sorrentino), onde rumamos até ao coração do submundo do crime siciliano, onde se desenrola um comovente conto romântico, entre Ciro e Fatima, ele um assassino contratado, empregado por um dos mais respeitados mafiosos do local, ela uma carinhosa enfermeira, que é colocada em perigo de vida, quando assiste ao que não devia. Amantes confessos de algum cinema de série B, os Manetti cruzam múltiplas influencias numa fita constantemente apostada em subverter convenções de género, que tanto nos espanta com impressionantes (e, consistentemente, sanguinolentas) sequencias de ação, como arrebata através dos inúmeros números musicais, resultando numa experiência que não partilha semelhanças com nenhuma outra produção em cartaz.


Género: Musical, Romance, Ação
Duração: 133 minutos

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