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Crítica: "Ilha dos Cães"


Se os filmes de imagem real do americano Wes Anderson já possuem uma magia que nos apetece associar ao cinema de animação, então o que dizer sobre as suas pontuais aventuras nesse mesmo terreno? “Ilha dos Cães” segue o maravilhoso “O Fantástico Sr. Raposo”, e recoloca o seu autor no panteão dos mais idiossincráticos e interessantes cineastas vivos e, também como um dos poucos genuínos criadores de universos e personagens, que sem a sua galopante imaginação nunca se materializariam. É o caso da belíssima fabula de um menino que parte em busca do seu fiel companheiro canino, numa ilha onde estes animais foram exilados por um cruel presidente, que planeia extingui-los. Estamos mesmo perante um acontecimento monumental, onde a visão simultaneamente amarga e esperançosa que já vamos associando a Anderson, volta a expor um brilhante cineasta que de maneira mais ou menos obsessiva regressa aos seus cenários artificiosos, para encontrar (e nos oferecer) uma harmonia que a vida insiste em negar-nos. Gentilmente permeado por um sentido de fino humor e visualmente impressionante, “Ilha dos Cães” é a melhor razão que o mês de Abril nos deu para sair de casa.


Realização: Wes Anderson
Argumento: Wes Anderson
Género: Animação, Comédia, Drama
Duração: 101 minutos

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