"A Minha Família do Norte", de Dany Boon
Dany Boon permanece plenamente interessado em
tornar regionalismos em matéria prima cómica. Em encenar pequenos contos
familiares, que convoquem os preconceitos e estereótipos mais comuns na
sociedade francesa contemporânea. Sempre com gentileza, ternura e benevolência.
O seu cinema declaradamente popular, assume componentes francamente
caricaturais e cartoonescas, no entanto, nunca ambiciona insultar ou magoar.
Afinal, para o cineasta nortenho está mesmo em causa, brincar com temas que
sempre o acompanharam.
Em “A Minha Família do Norte”, reencontramos
aquela França bucólica, que o viu nascer e crescer, e já marcou mesmo um dos
seus títulos mais célebres (o fenómeno “Bem-Vindo ao Norte”, um dos maiores
sucessos financeiros de todo o cinema europeu), para acompanhar a árdua
odisseia de um reputado arquiteto vanguardista, que sempre procurou eliminar
quaisquer sinais da existência de uma família modesta, para manter a imagem de
requinte e sofisticação que possui junto dos seus pares. Infelizmente, o
“universo” intervém e coloca-o numa posição de tamanha fragilidade, que o
obriga a confrontar diretamente esse passado distante.
Nas mãos de um autor mais perverso, poderia
ser um conto inquietante sobre a destruição progressiva dos laços familiares
(recentemente, encontrámos esse mesmo olhar em títulos extraordinários como
“Hereditário” ou “Happy End”), contudo, o cineasta e argumentista, prefere
sempre o seu tom habitualmente despretensioso e ligeiro, que nunca falha na
hora de arrancar muitas e sonoras gargalhadas ao público. Além disso, Boon que
é famoso por trabalhar meticulosamente com os seus atores, evidencia novamente
uma capacidade muito peculiar de pegar em situações e personagens, que
conhecemos através dos mais variados lugares comuns, e depois conferir-lhes uma
espessura humana digna e justa. Convenhamos, que “A Minha Família do Norte” não
muda resolutamente nada na filmografia do seu autor, mas, um filme assim tão consistentemente hilariante merece uma ida ao cinema. Por isso, ide. Fazer-vos-à bem...
Realização: Dany Boon
Argumento: Dany Boon, Sarah Kaminsky
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