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"Missão: Impossível - Fallout", de Christopher McQuarrie


Recentemente, quando Hollywood escolhe continuar uma franquia, os resultados tendem a cair numa monotonia constante e francamente cansativa. Olhemos para “Vingadores: Guerra do Infinito” ou “Mundo Jurássico: Reino Caído” e facilmente encontramos preocupantes evidências de um desinvestimento criativo generalizado. Desta maneira, sentimos mesmo a necessidade de questionar se é possível eventualmente deparar com blockbusters, que não se limitem à mera acumulação de clichés entediantes e truques envelhecidos? E a resposta é francamente afirmativa. Ou seja, “Missão: Impossível - Fallout”, novamente assinado por Christopher McQuarrie, que também assinara a aventura anterior, cujos eventos são diretamente seguidos neste sexto capítulo.


A história é relativamente simples, e resumindo de maneira necessariamente esquemática, podemos dizer que tudo começa com uma missão falhada, que culmina numa situação em que Ethan Hunt (Tom Cruise), necessita de fazer uma escolha difícil, cujas muitas e quase sempre imprevisíveis ramificações ocupam o resto do filme.

Ora, o que é particularmente impressionante no trabalho de McQuarrie, é o engenho como converte essa narrativa, num requintado fio condutor para um surpreendente alinhamento de sequências de ação. Cada uma pensada metodicamente, e encenada com a imponência e o rigor dos imortais números musicais de Busby Berkeley.


Seguindo os fundamentos de Alfred Hitchcock (e McQuarrie é mesmo um estudante atento, que aprendeu e empregou todas as regras do mestre do suspense), “Missão: Impossível – Fallout” é um finíssimo espetáculo cinematográfico, capaz de evocar algumas das mais inquietantes preocupações contemporâneas (manobras políticas, armas nucleares, terrorismo…), e criar momentos francamente espantosos, recusando sempre a banalização do digital, desse modo, preservando a dimensão puramente humana da ação. Nesse sentido, com o esquecer o amor pelo trabalho dos atores, em especial, Tom Cruise e Henry Cavill em fascinantes composições.


Realização: Christopher McQuarrie


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