Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2019
"A Pereira Brava", de Nuri Bilge Ceylan A palavra que melhor define aquilo de que o espetador se deve munir ao entrar numa projeção de “A Pereira Brava” é “paciência”. Porquê? Pois bem, porque o turco Nuri Bilge Ceylan é mesmo um cineasta da passagem do tempo, do seu carácter inexorável, do modo como somos quem somos (e imaginamos ser) a partir da consciência que temos (ou não) do papel que representamos nessa incessante voragem. Entende-se, portanto, que os seus filmes prefiram adotar um ritmo lento, que nos auxilia a entrar “de mansinho” nos pequenos dramas quotidianos dos habitantes dos recantos mais remotos e desencantados da Turquia, onde começaremos a entender os ressentimentos, frustrações e arrependimentos que parecem mesmo pautar (e condenar) as vidas das personagens que preenchem as suas minuciosas narrativas. Por isso, as mesmas acabam também por assumir características que as aproximam dos chamados medicamentos de ação lenta, que demoram até produzirem o ef
Destaque da Semana: "A Pereira Brava", de Nuri Bilge Ceylan Outras Estreias: "Dumbo", de Tim Burton "Destino: Casamento", de Victor Levin "Kursk", de Thomas Vinterberg "Captive State - Cercados", de Rupert Wyatt "Mirai", de Mamoru Hosoda "Tripla Ameaça", de Jesse V. Johnson "The Kamagasaki Cauldron War", de Leo Sato "Fevereiros", de Marcio Debellian
"Nós", de Jordan Peele “Nós” é uma tradução literal e correta do original “Us”, mas na passagem do inglês para o português perde-se uma nuance essencial para entender o cinema de Jordan Peele. Acontece que, o autor escolheu um título que também reproduz as iniciais de um país que se construiu a partir da utopia da união perfeita das suas comunidades, isto é, dos seus "United States". Contudo, será essa união possível? É uma questão que já ecoava na sua primeira longa-metragem, “Foge” (que lhe valeu um Óscar de Melhor Argumento Original), no entanto, em “Nós” Peele abandona as preocupações raciais que tomavam conta desse filme, para abraçar outras vertentes temáticas que providenciam a esta sanguinolenta parábola de muitos medos e incertezas uma frescura muito própria. Em causa, está o calvário de uma família de classe média, composta pelo casal Adelaide (Lupita Nyong'o), Gabe (Winston Duke) e pelos seus dois filhos, Jason (Evan Alexander) e Zora (Sh
Destaque da Semana: "Nós" Realização: Jordan Peele Argumento: Jordan Peele Elenco: Lupita Nyong'o , Winston Duke ,  Shahadi Wright Joseph , Evan Alex Outras Estreias: "Uma Criança como Jake", de Silas Howard "Uma Nação, Um Rei", de Pierre Schoeller "Miss XL", de Anne Fletcher "Bem-Vindos a Acapulco", de Guillermo Iván "Gabriel", de Nuno Bernardo "O Homem Pykante - Diálogos com Pimenta", de Edgar Pêra
"O Poder da Palavra", de Yvan Attal O cinema francês está bem e recomenda-se. Não é novidade para ninguém que tenha acompanhado as múltiplas produções gaulesas que temos conseguido encontrar nas salas portuguesas ao longo das últimas semanas., no entanto, o lançamento de “O Poder da Palavra” assume-se como um acontecimento particularmente interessante. Porquê? Pois bem, porque à semelhança de alguns títulos recentes como “Ervas Daninhas” ou “As Boas Intenções” , começa a evidenciar-se um pequeno “movimento”, digamos assim, interessado em utilizar a linguagem da comédia popular para abordar temas do nosso “aqui e agora”, convertendo narrativas que tipicamente encaramos como meros “nacos” de entretenimento descartável em ferramentas para repensar o mundo em que vivemos. Aqui acompanhamos Neïla (Camélia Jordana), uma jovem de origem argelina, que decide tornar-se advogada, inscrevendo-se para isso na Universidade Panthéon-Assas, em Paris. Contudo, certo dia, chega
"Rosie: Uma Família sem Teto", de Paddy Breathnach Apenas pudemos conhecer uma das anteriores oito longas-metragens do irlandês Paddy Breathnach. Chamava-se “Alucinação” e acompanhava um grupo de jovens que eram perseguidos e assassinados, enquanto procuravam experienciar os efeitos alucinatórios de uns cogumelos que dizem ser mágicos. Era um conto sangrento, inteligente e tremendamente perturbador, que anunciava Breathnach como um autor potencialmente interessante no campo do fantástico. Porém, o mesmo escolheu percorrer um caminho diferente daquilo que pensávamos, e reinventou-se como um realista na senda de reputados compatriotas seus como Paddy Considine, Shane Meadows, Andrea Arnold e, principalmente, Ken Loach. Exemplo modelar disso mesmo é “Rosie” , um olhar desencantado sobre a grave crise de habitação que há muito assola Dublin e não só (tudo acontece em solo irlandês, no entanto, podia ser Lisboa), que segue o quotidiano da personagem titular (Sarah Gr
Destaque da Semana: "Rosie: Uma Família sem Teto" Realização: Paddy Breathnach Argumento: Roddy Doyle Elenco: Sarah Greene , Moe Dunford , Ellie O'Halloran
"Na Fronteira", de Ali Abbasi Habituámo-nos a encontrar contos acerca de indivíduos que são remetidos à solidão devido a características físicas ou intelectuais que os distinguem dos seus pares e, em última instância, os lançam em aventuras fantasiosas que lhes permitem afirmar a sua identidade perante quem os oprime. É um conceito como qualquer outro, contudo, parece que todos se contentam em filmá-lo num academismo estético e ideológico que não inquieta ninguém, transformando o que podiam ser perturbantes olhares sobre os fantasmas do conformismo e preconceito em fábulas maniqueístas, inócuas e inofensivas. A parábola como via para exorcizar os muitos demónios da intolerância começou mesmo a recorrer um sentimentalismo fútil, a ponto de nos levar a questionar onde andam os herdeiros de um autor como Tod Browning (1880–1962), que nunca sentiu a necessidade de menorizar a violência dos mecanismos repressivos do ódio, nem de tornar os seus heróis relutantes em vít
Destaque da Semana: "As Boas Intenções" Realização: Gilles Legrand Argumento: Léonore Confino , Gilles Legrand Elenco: Agnés Jaoui , Alban Ivanov , Claire Sermonne