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Crítica:

"Uma Mulher não Chora"


Fatih Akin sempre filmou o seu meio: a comunidade de origem turca, residente na Alemanha. O mesmo acontece em “Uma Mulher não Chora”. Conto melancólico e contundentemente realista de uma mulher alemã (Diane Kruger), cujo marido (ele sim, turco) e o filho de 6 anos, são assassinados num atentado bombista, orquestrado por um movimento nazi emergente. O resultado é um estonteante filme político, capaz de absorver as mais ricas componentes de uma multiplicidade de géneros (melodrama familiar, thriller psicológico, entre outros), para conceber um labirinto narrativo bastante coeso e sempre interessante. Aqui, discutem-se temáticas fundamentais dos nossos dias, como a ascensão de movimentos extremistas na Europa contemporânea e, a possível inadequação das atuais estruturas de poder, para combater os seus avanços insidiosos, mas acima de tudo acompanha-se uma história muito humana. Afinal, “Uma Mulher não Chora” é um olhar amargo sobre os traumas do luto, através do retrato de alguém que, certo dia, percebeu que nunca voltaria a ver as pessoas que mais amava.


Realização: Fatih Akin
Argumento: Fatih Akin
Género: Drama
Duração: 106 minutos

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