Crítica:
"Mudbound: As Lamas do Mississípi"
Durante
muitos anos não se falava em racismo no cinema americano. Enfim, um passado
marcado por títulos moralmente repreensíveis e uma sociedade ainda demasiado
presa a preconceitos antigos, assim o exigiam. Porém, esse tabu começa a ser
questionado e, por conseguinte, quebrado por uma nova geração de talentosos
cineastas que, não ambicionam vergar-se a costumes ultrapassados. É o caso de
Dee Rees, autora deste conto melancólico sobre dois soldados, um branco, outro
negro, regressados da Segunda Guerra Mundial, ao Mississípi, no final da década
de 40. Cruzando influências clássicas e contemporâneas, a realizadora encena
esta odisseia com subtileza e humanismo, como evidenciado pela gestão atenta de
um argumento, onde os pontos de vista se vão alternando, para melhor expor uma
conjuntura de opressão e marginalização. Da doméstica frustrada de Carey
Mulligan, ao homem trabalhador e diligente de Rob Morgan. Em “Mudbound: As
Lamas do Mississípi” não há estereótipos, apenas seres humanos de carne e osso,
enterrados nas paisagens lamacentas que, a diretora de fotografia Rachel
Morrison filma com a elegância rústica que encontraríamos nas pinturas de Whitfield
Lovell. Por outras palavras, Dee Rees faz-nos entender o que vai na alma destas
pessoas de olhar desolado, num melodrama como Hollywood já não faz ou, se
calhar nunca fez. Político, sem cair na mais banal lógica panfletária e,
emocional, sem necessitar de manipular desonestamente o espetador. Isto é
cinema adulto e, ainda para mais, inteligente.
Realização:
Dee Rees
Argumento:
Dee Rees, Virgil Williams
Elenco: Carey Mulligan, Jason Clarke, Jason Mitchell, Garrett Hedlund, Mary J. Blige, Rob Morgan, Jonathan Banks
Género: Drama
Duração: 134 minutos
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