Avançar para o conteúdo principal

Cinema

Crítica: "Maré de Azar", de Mike Judge



Título Original: "Extract"
Realização: Mike Judge
Argumento: Mike Judge
Elenco: Jason Bateman, Mila Kunis, Kristen Wiig, Ben Affleck
Género: Comédia, Crime, Romance
Duração: 92 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 20/04/2017


Maré de Azar será, certamente, o mais rocambolesco acontecimento cinematográfico, que o nosso circuito comercial nos providenciou em muito tempo. Não, que a longa-metragem em questão seja particularmente bizarra, embora não destoe no universo peculiar do autor Mike Judge (responsável pelo emblemático, O Insustentável Peso do Trabalho), não aqui essa estranheza advém de uma estratégia de distribuição que, curiosamente, acaba por ser manifestamente similar à estrutura consequencial do filme em si, nomeadamente, a NOS Audiovisuais anunciou a estreia ontem (sim, com um dia de antecedência), evidenciando um desinteresse brutal, que um lançamento assustadoramente limitado (apenas uma sala), veio comprovar e, um atraso ridiculamente gigantesco "legitimar", é que nos EUA o filme foi lançado há, nada mais, nada menos, do que nove anos. E é pena, que assim seja, porque esta é mesmo uma das melhores comédias dos últimos tempos, comprovando novamente o génio do seu criador Judge, que aqui vai compondo uma tapeçaria de histórias burlescas, que se vão cruzando de formas consistentemente surpreendentes e hilariantes, nesta sátira espirituosa sobre as relações humanas (amorosas ou não), de onde retiramos uma série de sequências hilariantes (todas as conversas entre Bateman e Affleck, são ouro) e, uma série de performances curiosíssimas, que resultam numa belíssima surpresa, que infelizmente passará ao lado de muitos.

8/10
Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

CRÍTICA - "THE APPRENTICE - A HISTÓRIA DE TRUMP"

"The Apprentice", em Portugal, acompanhado pelo subtítulo "A História de Trump", tornou-se num dos filmes mais mediáticos do ano antes de ser revelado ao público, em maio, no Festival de Cannes, "poiso" habitual do seu autor, o iraniano-sueco-dinamarquês Ali Abbasi. De facto, os tabloides tiveram muito por onde pegar, houve um apoiante de Donald Trump que, inconscientemente, terá sido um dos financiadores de "The Apprentice" (só podemos especular que terá assumido que o filme se tratava de uma hagiografia, de pendor propagandístico), a campanha de boicote que Trump e a sua comitiva lançaram contra o filme, a dificuldade de encontrar um distribuidor no mercado norte-americano (nenhum estúdio quer ter um possível Presidente como inimigo), etc. A polémica vale o que vale (nada), ainda que, inevitavelmente, contribua para providenciar um ar de choque a "The Apprentice", afinal, como exclamam (corretamente) muitos dos materiais promocionais ...

"Flow - À Deriva" ("Straume"), de Gints Zilbalodis

Não devemos ter medo de exaltar aquilo que nos parece "personificar", por assim dizer, um ideal de perfeição. Consequentemente, proclamo-o, sem medos, sem pudores, "Flow - À Deriva", do letão Gints Zilbalodis é um dos melhores filmes do século XXI. Um acontecimento estarrecedor, daqueles que além de anunciar um novo autor, nos providencia a oportunidade rara, raríssima de experienciar "cinema puro". O conceito é simultaneamente simples e complexo. Essencialmente, entramos num mundo que pode ou não ser o nosso, onde encontramos apenas natureza, há resquícios do que pode, eventualmente, ter sido intervenção humana, mas, permanecem esquecidos, abandonados, nalguns casos, até consumidos pela vegetação. Um dia, um gato, solitário por natureza, é confrontado com um horripilante dilúvio e, para sobreviver, necessita de se unir a uma capivara, um lémure-de-cauda-anelada e um cão. Segue-se uma odisseia épica, sem diálogos, onde somos convidados (os dissidentes, cas...

"Oh, Canada", de Paul Schrader

Contemporâneo de Martin Scorsese, Steven Spielberg e Francis Ford Coppola, Paul Schrader nunca conquistou o estatuto de "popularidade" de nenhum desses gigantes... e, no entanto (ou, se calhar, por consequência de), é, inquestionavelmente, o mais destemido. Em 1997, "Confrontação", a sua 12ª longa-metragem, tornou-se num pequeno sucesso, até proporcionou um Óscar ao, entretanto, falecido James Coburn. Acontece que, o mediatismo não o deslumbrou, pelo contrário, Schrader tornou-se num cineasta marginal, aberto às mais radicais experiências (a título de exemplo, mencionemos "Vale do Pecado", com Lindsay Lohan e James Deen). Uma das personas mais fascinantes do panorama cultural norte-americano, parecia ter escolhido uma espécie de exílio, até que, "No Coração da Escuridão", de 2017, o reconciliou com o público. Aliás, o filme representou o início de uma espécie de trilogia, completada por "The Card Counter: O Jogador", em 2021, e "O ...