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Mensagens

"Oh, Canada", de Paul Schrader

Contemporâneo de Martin Scorsese, Steven Spielberg e Francis Ford Coppola, Paul Schrader nunca conquistou o estatuto de "popularidade" de nenhum desses gigantes... e, no entanto (ou, se calhar, por consequência de), é, inquestionavelmente, o mais destemido. Em 1997, "Confrontação", a sua 12ª longa-metragem, tornou-se num pequeno sucesso, até proporcionou um Óscar ao, entretanto, falecido James Coburn. Acontece que, o mediatismo não o deslumbrou, pelo contrário, Schrader tornou-se num cineasta marginal, aberto às mais radicais experiências (a título de exemplo, mencionemos "Vale do Pecado", com Lindsay Lohan e James Deen). Uma das personas mais fascinantes do panorama cultural norte-americano, parecia ter escolhido uma espécie de exílio, até que, "No Coração da Escuridão", de 2017, o reconciliou com o público. Aliás, o filme representou o início de uma espécie de trilogia, completada por "The Card Counter: O Jogador", em 2021, e "O ...
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"Flow - À Deriva" ("Straume"), de Gints Zilbalodis

Não devemos ter medo de exaltar aquilo que nos parece "personificar", por assim dizer, um ideal de perfeição. Consequentemente, proclamo-o, sem medos, sem pudores, "Flow - À Deriva", do letão Gints Zilbalodis é um dos melhores filmes do século XXI. Um acontecimento estarrecedor, daqueles que além de anunciar um novo autor, nos providencia a oportunidade rara, raríssima de experienciar "cinema puro". O conceito é simultaneamente simples e complexo. Essencialmente, entramos num mundo que pode ou não ser o nosso, onde encontramos apenas natureza, há resquícios do que pode, eventualmente, ter sido intervenção humana, mas, permanecem esquecidos, abandonados, nalguns casos, até consumidos pela vegetação. Um dia, um gato, solitário por natureza, é confrontado com um horripilante dilúvio e, para sobreviver, necessita de se unir a uma capivara, um lémure-de-cauda-anelada e um cão. Segue-se uma odisseia épica, sem diálogos, onde somos convidados (os dissidentes, cas...

CRÍTICA - "THE APPRENTICE - A HISTÓRIA DE TRUMP"

"The Apprentice", em Portugal, acompanhado pelo subtítulo "A História de Trump", tornou-se num dos filmes mais mediáticos do ano antes de ser revelado ao público, em maio, no Festival de Cannes, "poiso" habitual do seu autor, o iraniano-sueco-dinamarquês Ali Abbasi. De facto, os tabloides tiveram muito por onde pegar, houve um apoiante de Donald Trump que, inconscientemente, terá sido um dos financiadores de "The Apprentice" (só podemos especular que terá assumido que o filme se tratava de uma hagiografia, de pendor propagandístico), a campanha de boicote que Trump e a sua comitiva lançaram contra o filme, a dificuldade de encontrar um distribuidor no mercado norte-americano (nenhum estúdio quer ter um possível Presidente como inimigo), etc. A polémica vale o que vale (nada), ainda que, inevitavelmente, contribua para providenciar um ar de choque a "The Apprentice", afinal, como exclamam (corretamente) muitos dos materiais promocionais ...

CRÍTICA - "UM SINAL SECRETO"

O êxito de "Foge" ("Get Out", no original), a primeira longa-metragem de Jordan Peele como cineasta, desencadeou uma onda de cinema de terror socialmente consciente. Naturalmente, o género nunca abdicou dessa veia política, no entanto, começámos a vê-la ser um tanto ou quanto secundarizada, em particular, nas produções dos estúdios norte-americanos que, quer queiramos, quer não, constituem a cara do que um género é e representa aos olhos do grande público. "Um Sinal Secreto", também uma primeira longa-metragem de alguém que trabalha, noutros departamentos, em Hollywood, há vários anos, Zoë Kravitz, é um sucedâneo do filme de Peele (e do seu sucesso que continua a tornar títulos que, possivelmente, seriam encarados como demasiado ousados ou polarizadores em objetos comercialmente apetecíveis), um pouco como "Antebellum: A Escolhida" ou "Não Te Preocupes, Querida" (note-se, ambos menos conseguidos que o filme de Kravitz, ainda que muitíss...

CRÍTICA - "MOTEL DESTINO"

Estranhamente, o mercado português desconhece o cinema brasileiro. Nem sempre foi assim, mas, atualmente, excluindo Walter Salles, Karim Aïnouz e Kleber Mendonça Filho, não nos lembramos de nenhum outro autor(a) contemporâneo(a) cujo trabalho tenha estreado consistentemente. Se há outros cineastas dignos de nota a fazer cinema no Brasil ao dia de hoje? Há sim, quem frequenta o Indielisboa e, ocasionalmente, o MOTELX pode confirmá-lo, no entanto, por algum motivo, o circuito comercial permanece, maioritariamente, vedado ao que lá se faz. "Motel Destino", a mais recente longa-metragem de Aïnouz estreia-se entre nós em circunstâncias especiais, trata-se de um lançamento simultâneo com o mercado brasileiro, estratégia que se saúda, principalmente, quando a norma, pelo menos, no que às produções independentes diz respeito, parece ser a das estreias atrasadas, estando o calendário repleto de títulos que necessitaram de 1 a 2 anos para encontrarem um lugar no nosso calendário. Aliás...

CRÍTICA - "A ILHA VERMELHA"

Robin Campillo é um dos cineastas mais emblemáticos da sua geração, no entanto, é tudo menos prolífico. Em 2004, assinou a sua primeira longa-metragem, "Les revenants", um fenómeno de popularidade junto de crítica e público que, tardiamente, até gerou dois remakes no pequeno ecrã, um em França, outro nos EUA (Campillo não esteve envolvido em nenhum dos dois e os resultados, sejamos sinceros, não sustentavam qualquer tipo de comparação com o seu filme). Desde aí, trabalhou consistentemente enquanto coargumentista, principalmente, junto do recentemente falecido Laurence Cantet, por exemplo, em "O Emprego do Tempo" ou "A Turma", mas, como realizador, só o reencontramos em três outras ocasiões ao longo dos últimos 20 anos, em 2013, quando lançou "Eastern Boys", em 2017, ano de "120 Batimentos por Minuto", porventura, o seu melhor filme e, seguramente, aquele que mais mediatismo conseguiu alcançar e, agora, em 2024 (ainda que, em França, o l...