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Crítica: Jogo Duplo: James Benning E Richard Linklater (Double Play: James Benning And Richard Linklater), de Gabe Klinger


E eis que em plena silly season invernal, com as salas de cinema a serem invadidas pelos grandes blockbusters de final de ano, que a Nitrato Filmes (uma das mais interessantes distribuidoras emergentes), nos decide trazer uma "prendinha" de Natal antecipada: "Jogo Duplo: James Benning E Richard Linklater".
Estreia na realização do brasileiro Gabe Klinger que nos propõe aqui um exercício de invulgar simplicidade: assistir a uma série de conversas entre os dois cineastas texanos, que dão nome à obra, intercaladas por imagens de arquivo e trechos das principais obras de ambos. Enquanto isso, o realizador vai contrapondo o estilo mais mainstream de Linklater (um dos únicos cineastas capaz de fazer obras para o grande público, sem perder as clássicas marcas que dele fazem um autor) ao experimentalismo Benning, ajudando-nos assim a encontrar uma variedade de semelhanças entre dois estilos que à partida nos parecem tão díspares (o registo da passagem do tempo, apresenta-se como um ponto comum entre o trabalho de ambos). Porém, a surpresa aqui acaba por ser o quão humano e até sentimental (uma palavra que nestes últimos anos parece ter-se tornado um insulto) este processo acaba por ser, isto porque não se engane "Jogo Duplo" é tudo menos uma mera conversa entre dois amigos. É uma biografia acerca de todos nós, e da forma como envelhecemos e mudamos, contudo sempre sem perdermos ligações com as pessoas que outrora fomos.
Uma maravilhosa pérola a descobrir nas salas.
10/10
Miguel Anjos

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