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"Thor: Ragnarok", de Taika Waititi



Nunca tivemos um filme minimamente interessante sobre o Deus do Trovão. Sim, os dois títulos anteriores possuíam uma competência notória e, Hemsworth compôs um super-herói carismático e cativante. No entanto, os cineastas (Kenneth Branagh e, o sempre horrendo Alan Taylor) falharam em ambos os casos. Como tal, aquilo que o neozelandês Taika Waititi conseguiu com este belíssimo terceiro capítulo, apresenta-se quase como uma “revelação”. E, escolhemos empregar este termo mais ou menos espampanante, porque ao desviar permanentemente os acontecimentos da seriedade do comum e, abraçar sem reservas algumas um tom descomplexado e despretensioso de comédia extravagante, Waititi compôs um imponente espetáculo pipoqueiro, que se devora sem sentimentos de culpa. Ora e, providenciando uma sempre útil dose de contexto, em “Thor: Ragnarok” encontramos o nosso herói, aprisionado num pouco ou nada acolhedor planeta, liderado por um ditador estrambólico, do qual necessita de fugir urgentemente. O que se segue é, no essencial, um cruzamento estranhíssimo e eternamente delirante entre Alejandro Jodorowsky e James Gunn, que vai relaxar os corações dos fãs dedicados da banda-desenhada e, conquistar os não-devotos, com generosas doses de charme. Não fosse ligeiramente demasiado longo (os 130 minutos arrastam-se um pouco lá para meio), diríamos que é um exemplar perfeito deste seu género, mas nada que nos impeça de o proclamar como um dos melhores exemplares recentes do mesmo e, uma das boas surpresas do ano.


Realização: Taika Waititi
Género: Ação, Comédia, Fantasia
Duração: 130 minutos

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