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Crítica: "Capitão Falcão", de João Leitão


Está encontrado um dos filmes mais singulares e fascinantes de 2015: "Capitão Falcão" uma hilariante sátira à paranóia anti-comunista da ditadura fascista dos anos 60, centrada num super-herói ultra-patriota e na sua luta incansável contra os inimigos do Estado Novo e dos bons costumes!


De sequência cómica em sequência cómica, o cineasta João Leitão (que também assina o argumento, em conjunto com Nuria Leon Bernardo) cria com "Capitão Falcão" um objeto cinematográfico único, que consegue fazer rir (muito) com doses generosas de inteligência e imaginação (destaque para um momento absolutamente brilhante no qual Leitão "brinca" com a habitual perceção que o público tem do cinema nacional, transformando, por breves momentos "Capitão Falcão" num "Filme Português Clássico" com todos os clichés de lentidão e longos silêncios) repleto de sequências de "pancadaria", magnificamente coreografadas e uma série de linhas de diálogo imediatamente icónicas (é provável que "Capitão Falcão" seja o filme português mais citável da história), capaz de satisfazer o público juvenil e adulto, dos mais habituados a ver cinema português aos mais céticos, que cumpre assim o prometido há já vários anos quando a curta-metragem que lhe deu origem fez furor no Motelx, e o seu trailer se tornou um fenómeno viral na Internet. Em suma, uma fita alucinante e inovadora, que se prova capaz de olhar para um dos períodos mais negros da história nacional com um sorriso na cara.

Nota: Não levante o rabiosque da cadeira até o genérico terminar (olhe que vale a pena).

9/10
Miguel Anjos

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