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Crítica: "A Última Noitada", de Jonathan Levine



Título Original: "The Night Before"
Realização: Jonathan Levine
Argumento: Jonathan LevineKyle HunterAriel ShaffirEvan Goldberg
Elenco: Joseph Gordon-LevittSeth RogenAnthony MackieJillian BellLizzy CaplanMindy KalingMichael Shannon
Género: Comédia
Duração: 101 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Data De Estreia (Portugal): 03/12/2015
Classificação Etária: M/16
Facebook Oficial | Site Oficial | IMDB

Decididamente, algum do melhor cinema contemporâneo tem servido para nos "elucidar", acerca das convulsões do processo de crescimento (lembremo-nos, a título de exemplo, de fitas recentes como "Pássaro Branco" ou "Vai Seguir-te"), pois bem, essa tendência continua com a mais recente longa-metragem de Jonathan Levine (realizador de três dos melhores e mais originais filmes do século XXI: "All the Boys Love Mandy Lane""The Wackness - À Deriva" e "50/50"), intitulada "A Última Noitada" (título original: "The Night Before"), uma stoner comedy absolutamente hilariante e deveras comovente, na qual acompanhamos Ethan (Joseph Gordon-Levitt), um aspirante a músico que, desde a trágica morte dos pais tem vindo a passar o Natal na companhia dos seus dois melhores amigos, Isaac (Seth Rogen) e Chris (Anthony Mackie). O evento é planeado com antecedência e é totalmente dedicado à diversão, sem quaisquer regras ou limites que não possam ser quebrados. Mas, agora que Isaac está prestes a ser pai e que Chris se tornou famoso como jogador de futebol, os três decidem que é chegado o momento de acabar com a tradição para, finalmente, se portarem como homens adultos. Mas antes que isso aconteça os três estão determinados a passar uma última noitada que lhes fique gravada na memória para todo o sempre. Levine, encena com mestria uma série de momentos cómicos inesquecíveis, muito disso graças à qualidade do elenco e, se de Gordon-Levitt e Rogen já esperamos excelência neste registo, o grande trunfo do filme é o enorme Michael Shannon, que é dos melhores e mais intensos atores (americanos ou não) da atualidade e aqui brilha no papel de um narcotraficante religioso, com uma especial paixão pelo "Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald. Porém, o mais curioso é que apesar de estarmos, claramente, perante uma obra que tem como principal objetivo fazer rir, "A Última Noitada" nunca perde uma certa seriedade, voltando constantemente à forma como o passar do tempo veio afetar a relação dos protagonistas, estamos por isso, perante um exemplo admirável de um tipo de cinema que não desiste de abordar as complexidades das suas personagens e, o facto de ser capaz de fazer tal coisa sem nunca perder o seu sentido de humor, só o torna ainda mais recomendável.

Classificação: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10
Texto de Miguel Anjos

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