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Crítica: "Trumbo", de Jay Roach


Título Original: "Trumbo"
Realização: Jay Roach
Argumento: John McNamara
Género: Biografia, Drama
Duração: 124 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Data De Estreia (Portugal): 19/02/2016
Classificação Etária: M/12

Centrado numa brilhante interpretação do veterano Bryan Cranston (uma das figuras mais populares do universo televisivo, graças ao seu trabalho na série "Breaking Bad"), "Trumbo" é uma das boas surpresas desta temporada de prémios (está nomeado para o Óscar de Melhor Ator), uma fita biográfica muito bem construída, que surpreende pela forma como confronta Hollywood com os pecados do seu passado (contornando as auras mitológicas de verdadeiros astros da história da sétima arte e expondo-os como autênticos trastes), nomeadamente, a "Lista Negra" que arruinou as carreiras (e as vidas) de milhares de artistas, apenas por terem ligações ao Partido Comunista norte-americano. Em 1947, Dalton Trumbo (Cranston), estava entre os mais bem pagos e requisitados argumentistas do cinema americano até se tornar num dos muitos alvos da caça aos comunistas, promovida pela House Un-American Activities Committee (HUAC). Passa pelos interrogatórios da HUAC sem dar respostas nem nomes, o que lhe vale um ano na cadeia, em 1950. Uma vez cá fora, e impedido de assinar obra, troca a vida de luxo e a mansão no campo, por uma casa nos subúrbios e uma década a "aviar" argumentos sobre pseudónimos para a King Brothers Productions, uma fábrica de filmes de série B com Frank King (encarnado pelo enorme John Goodman, numa performance absolutamente deliciosa), um dos bons disto tudo, ao leme. Daqui brotam "Férias em Roma" e "O Rapaz e o Touro", vencedores do Óscar para Melhor Argumento em 1954 e 1957, sem corpo ou nome presentes. Assim, ao olhar para Hollywood, para lá das suas imagens mais glamorosas ou espetaculares, o filme de Jay Roach (realizador de títulos como "Um Sogro Do Pior" ou "Mudança de Jogo"), consegue reafirmar a importância da memória ao imortalizar um episódio histórico (à falta de um termo mais adequado) vergonhoso, que não pode, nem deve ser esquecido. E tudo isto com um peculiar sentido de humor e uma galeria de atuações impressionantes (além dos já referidos Cranston e Goodman, importa destacar o neozelandês Dean O'Gorman, fabuloso no papel de Kirk Douglas). A um nível formal não é, de facto, uma obra inovadora, mas a sua importância histórica e valor de entretenimento fazem dela uma recomendação fácil.

Classificação: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10
exto de Miguel Anjos

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