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Crítica: "Os Oito Odiados", de Quentin Tarantino



Título Original: "The Hateful Eight"
Realização: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Samuel L. JacksonKurt RussellJennifer Jason LeighWalton GogginsDemián BichirTim RothMichael MadsenBruce Dern
Género: Crime, Drama, Mistério
Duração: 168 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Data De Estreia (Portugal): 04/02/2016
Classificação Etária: M/16


Quentin Tarantino está de volta! Porém, em boa verdade, diga-se que este seu regresso se faz com um filme verdadeiramente fora do comum (mesmo dentro da filmografia do próprio) capaz de irritar quem não é fanático da sua linguagem e códigos, mas isso também são boas notícias, porque se, de facto, tal coisa nos leva a crer que este não será, porventura, o filme mais comercial do seu currículo (os resultados de bilheteira nos EUA foram pouco encorajadores), também significa que estamos perante uma experiência única e irrepetível que constitui um dos seus trabalhos mais sofisticados à data, quer a nível de escrita, quer de encenação.


A narrativa tem lugar vários anos depois da Guerra Civil (um episódio fulcral da história dos Estados Unidos, pelo qual o cineasta já admitiu nutrir um enorme fascínio), numa estalagem nas montanhas onde oito estranhos (interpretados por Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demián Bichir, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern) se refugiam de uma terrível tempestade de neve. Aos poucos, os oito viajantes começam a descobrir os segredos sangrentos uns dos outros, levando assim a um inevitável confronto.


Desde logo, importa dissipar quaisquer sentimentos de dúvida existentes, "Os Oito Odiados" é uma obra-prima (não se esperava menos de Tarantino) que toda a gente devia ver numa sala de cinema (isto mesmo tendo em conta que, pelas mais variadas razões, não será, de maneira alguma, um filme para todos os gostos), um western moderno, assombroso na sua modernidade, através do qual o cineasta aborda temáticas que, infelizmente, ainda hoje ecoam na sociedade americana, como a tensão racial e a questão da posse de armas (este é, claramente, o seu filme mais político). A juntar a isso, a banda sonora original do veterano Ennio Morricone e um elenco de primeiríssima água, encabeçado por um impecável Samuel L. Jackson, naquela que fica para a história como uma das suas mais inesquecíveis interpretações. O realizador reencontra-se assim com a estrutura do seu primeiro filme "Cães Danados" (1995), reunindo um grupo de estranhos para, entre eles, instalar a desconfiança, o espírito detetivesco e a violência orquestrada. É inigualável e verdadeiramente imperdível.

Classificação: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10
Texto de Miguel Anjos

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