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Crítica

"Uma História Americana", de Ewan McGregor



Título Original: "American Pastoral"
Realização: Ewan McGregor
Argumento: John Romano
Elenco: Ewan McGregor, Jennifer Connelly, Dakota Fanning
Género: Crime, Drama
Duração: 118 minutos
País: EUA | Hong Kong
Ano: 2016
Distribuidor: Cinemundo
Classificação Etária: M/16
Data de Estreia (Portugal): 17/11/2016


Crítica: Ewan McGregor não faz a coisa por menos e, para se estrear como cineasta optou por adaptar um dos romances mais célebres daquele que muitos têm na conta do melhor escritor contemporâneo, Philip Roth. Aposta arriscada para um ator que ainda não possui muita experiência nisto das longas-metragens, mas que felizmente correu bem não fosse "Uma História Americana" uma das mais auspiciosas revelações dos últimos meses. Nada mais, nada menos, do que um melodrama classicista (trazendo à memória mestres como Elia Kazan ou Otto Preminger) com fôlego de tragédia grega, centrado na odisseia de uma família aparentemente perfeita que quase parece corresponder a encarnação sagrada de uma visão idílica do sonho americano, que é completamente aniquilada no momento em que a filha é acusada de ter sido responsável pela colocação de uma bomba numa estação de correios, como forma de protesto político (a história tem lugar durante os tempos, no mínimo, conturbados da Guerra do Vietname). Enfim, qualquer descrição deste tipo peca sempre pelo seu esquematismo, uma vez que o centro do filme do McGregor está muito mais interessado nas convulsões intimas e coletivas, das suas personagens e do ambiente que as rodeia, respetivamente, do que numa banal intriga de suspense. Construindo, no processo uma primorosa e fascinante teia dramática.

Texto de Miguel Anjos

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