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Crítica

"Sete Minutos Depois da Meia-Noite", de Juan Antonio Bayona



Título Original: "A Monster Calls"
Realização: Juan Antonio Bayona
Argumento: Patrick Ness
Elenco: Sigourney Weaver, Felicity Jones, Lewis MacDoughall, Liam Neeson
Género: Drama, Fantasia
Duração: 108 minutos
País: Espanha | EUA
Ano: 2016
Distribuidor: PRIS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data De Estreia (Portugal): 03/11/2016

Crítica: Que Juan Antonio Bayona era um dos mais fascinantes cineastas contemporâneos já sabíamos, porém não é por isso que deixamos de ficar estupefactos perante o seu mais recente "monumento": "Sete Minutos Depois da Meia-Noite", visceralmente comovente cruzamento entre fábula e drama com contornos marcados de um certo realismo social, onde a mais profunda mágoa e o otimismo sereno parecem coabitar. Nele, seguimos um jovem de 13 anos chamado Conor, que todas as noites (quando passam sete minutos da meia-noite) é visitado por um monstro surge única e exclusivamente para lhe contar três histórias (uma em cada noite). Mas, porque precisa Conor de as ouvir? Porque vive preso numa solidão atroz, tendo como única companhia a mãe, que por sua vez tem um cancro em fase terminal. Com uma avó severa e um pai que raramente marca presença, o rapaz vê-se constantemente perseguido pelo mesmo pesadelo: a igreja e o cemitério que vê da janela do seu quarto são engolidos por um buraco na terra e, com eles a sua mãe. Bayona conjuga os traços do conto de fadas gótico que marcaram os seus trabalhos iniciais (nota-se também aqui a influência do seu mentor Guillermo Del Toro, com quem colaborou na sua primeira longa-metragem, "O Orfanato") com um eco emocional honesto e genuíno, que puxa as lágrimas (plural, importa reiterar) sem nunca sentir necessidade de recorrer a artifícios para o fazer, por outras palavras, também nós somos devastados pela situação de Conor e da sua mãe (duas atuações exemplares de Lewis MacDoughall e Felicity Jones, respetivamente), não estivéssemos nós perante aquela que é também uma das fitas mais brutais do ano e, quando falamos em brutalidade não nos referimos a imagens chocantes banalmente alinhadas ou nada que se pareça, bem pelo contrário aqui o sentimento vem da forma humaníssima com que tudo é retratado, conferindo a cada olhar, cada palavra, cada lágrima um poder que desafia as palavras. Um dos mais fascinantes cineastas vivos? Certamente, mas também um dos grandes humanistas dos nossos dias.


Texto de Miguel Anjos

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