Crítica: "Peregrinação", de João Botelho
Botelho permanece
interessado em converter obras literárias clássicas, em filmes, que não se
resumam às mais banais convenções televisivas. E, nesse sentido, importará
mencionar que essas ambições, por mais honrosas que sejam, ainda não se tinham
materializado num objeto cinematográfico, que lhes correspondesse. Isto, até
agora, porque esta transposição do emblemático livro de viagens de Fernão
Mendes Pinto, é um belíssimo acontecimento, que filma a odisseia do escritor,
como uma interminável e melancólica procura do infinito, por um homem, que
enfrentou inúmeros e inimagináveis ameaças, para alcançar o “reino dos céus” e,
sobreviveu para contar as suas aventuras. Haveriam muitas formas de encenar os
pequenos contos, que compõem este elegante e eloquente diário de viagens e,
Botelho também ele combatendo adversidades múltiplas (como a óbvia necessidade
de condensar os escritos de Fernão Mendes Pinto nuns económicos 110 minutos ou,
a falta de dinheiro, para certas sequências mais custosas), escolheu compor uma
longa-metragem, que “rima” com o seu protagonista e, aquela sua ambição
constantemente desmesurada. Assim sendo, “Peregrinação” não é um filme perfeito,
no entanto, possui uma “vontade de cinema” que comove, desdobrando-se entre o
filme de aventuras clássico, a epopeia musical e, o drama melancólico, ainda
que ocasionalmente irónico. Pensemos em Manoel de Oliveira, Demy ou Ford,
cruzemo-los todos e, talvez, fiquemos perto desta curiosíssima experiência.
Realização:
João Botelho
Elenco: Cláudio da Silva, Pedro Inês, Jani Zhao, Catarina Wallenstein
Género: Drama
Duração:
110 minutos
Sem dúvida, um filme audacioso.
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