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Crítica: Frank, de Lenny Abrahamson



Foi em Janeiro deste ano que este "Frank" foi exibido pela primeira vez ao público (depois de alguns meses de especulação em relação ao resultado) no Festival de Sundance onde foi recebido em apoteose, agora quase um ano depois chega às salas portuguesas, e destaca-se claramente como sendo uma das mais curiosas obras de 2014.
Muito levemente baseado na história do comediante britânico Chris Seivey, a fita parte de uma premissa que poderia facilmente dar origem a um filme excêntrico porém ridíiculo, mas graças a um argumento que tem tanto de divertido como de tocante e um elenco de primeira água, o filme de Abrahamson acaba por se tornar loucamente brilhante.
E se estamos a falar de "Frank" torna-se absolutamente impossível não referir o homem por detrás da máscara, ou seja, o enorme Michael Fassbender, que empresta aqui uma humanidade admirável à sua personagem que,  no fundo é simplesmente um homem em busca de uma forma de se expor, obviamente dificultada pelos seus problemas mentais e por uma falta de autoconfiança latente, sendo isso especialmente notório na reta final da fita, onde tudo se torna mais sério e intenso, conseguindo ainda em adição apresentar um timing cómico excecional e uma química genuína com o seu co-protagonista Domhnall Gleeson (também ele soberbo, e num papel com o qual me identifiquei imenso).
Além disso, também merecedores de destaque são Scoot McNairy, excelente como sempre naquele que é um dos mais difíceis papéis do filme, Maggie Gyllenhaal a demonstrar uma enorme frieza à sua detestável Clara, e uma banda-sonora tão bizarra  como contagiante (como o próprio filme, aliás).
E é por isso que este "Frank" se torna simplesmente imperdível, uma película única, extremamente comovente, e não raras vezes hilariante, possuidora de uma encantadora estranheza que irá, sem dúvida, compensar todos os que se aventurarem nela.
10/10

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